Você, independentemente de onde mora, já
deve ter ouvido falar da UERJ.
A UERJ, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, é uma importante universidade do Brasil, a qual vem sofrendo com
constantes cortes e sucateamento por parte do Estado do Rio. A UERJ é, também,
a minha segunda casa; para qual retorno, totalmente, no dia 23 de agosto, depois
de cerca de cinco meses em greve. Logo após, você deve perceber, dos exorbitantes
gastos olímpicos; porém, de conquistas ainda tímidas da educação.
Por isso, hoje, entre decepções, algumas
conquistas e muita vontade de continuar lutando e resistindo, apresento uma
reflexão que nasceu de uma das muitas atividades dessa longa greve:
Em umas das rodas de leitura organizadas
por professoras da Faculdade de Educação, da qual sou aluna, durante a grave,
uma das professoras leu uma crônica, da Martha Medeiros, cujo título usei nesta
reflexão: “Poesia numa hora dessa?”. Eu, que nunca entendi bem essa coisa de
dividir a vida entre dias úteis e inúteis, em horas de poesia e horas de poxa
vida, peguei-me com tal questão: poesia numa hora dessa?
Indaguei-me, aflita, depois de recusas e
desprezos; após tantos negarem, velada ou explicitamente, entrar na roda.
Questionei-me diante de tanta ausência, diante desse silêncio que grita em
favor do descaso: poesia numa hora dessa? Poesia como luta e afirmação de
direitos? Será mesmo um caminho possível e plausível? Será?
Pois bem, não digo que minha resposta aos
silêncios e aos gritos, às presenças e às ausências, seja a melhor ou que essa
irá lhe convencer de minhas crenças em um Rio de Janeiro mais justo, num Brasil
de equidade, que começa com a qualidade da educação pública. Apenas tomo espaço
da UERJ, que é nosso, do povo, para dizer-lhes a boniteza de meus silêncios,
para lhes despertar diante das lutas de meus lamentos. A minha resposta é
simples, tão simples que não é minha. Tão de outros que é singular: poesia numa
hora dessa sim, companheiro.
Poesia numa hora dessa para não sermos os
hipócritas de Quintana: os democratas escravocratas. Poesia para sermos o
menino de Barros, que encontra apreço no encantamento e não precisa,
necessariamente, fazer de razão. Poesia para sermos Conceição e enxergarmos
nossos privilégios pelos olhos d'água de uma mãe e desconstruirmos as mazelas
preconceituosas de nossa existência. Poesia porque bem perto da nossa
Universidade, na Mangueira, há uma pichação que diz: somos seres humanos. E que
desgoverno é esse, que pessoas, em especial os pobres, precisam anunciar sua
humanidade para que a vejam?
Poesia
para a menina que prefere ser a pior princesa do mundo a ser a mulher que
impõem a ela. Poesia para sermos Jeremias e mandarmos os monstros que criamos
embora; poesia para sermos Rocha, a Ruth, e não prendermos o rabo em
falcatruas, nem elegermos quem o tenha preso em contas na Suíça. Poesia pra
dizer que não aceitamos golpe, mas que queremos solução; que não queremos
assistencialismo barato, mas queremos o HUPE (Hospital Universitário Pedro Ernesto) tão bem equipado quanto seu vizinho, o Maraca; com seus
profissionais tão valorizados quanto os protagonistas de um clássico entre
Vasco e Flamengo.
Poesia para lermos nossas angústias, para
percebermos nossos erros, para celebrarmos nossos acertos, para nos unirmos na
luta por um futuro outro. Poesia para sermos, estarmos, prosseguirmos e
resistirmos. Poesia pra quê? Pra sermos Galeano e, vendo o horizonte se
afastar, continuar caminhando.
E que a poesia se transforme em
manifestos, em atos de solidariedade, em empatia por outros, sempre tão
diferentes de nós; que a poesia nos transporte de nossa própria existência,
transporte medíocres à revolução; covardes à esperança; moralistas à humildade.
Que a poesia nos carregue, nos envolva, nos molde, faça-nos gente, faça-nos
revolucionários; pois, com a coragem de quem acredita na luta, afirmo: a
revolução será em versos ou não será.
Por uma universidade pública e do povo: UERJ
RESISTE!
Outras fotos:
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Foto retirada do site da UERJ. |
Oi Mariane aqui em SP também ta assim. A Unesp esta de greve há uns 4 meses. É revoltante ver a educação sendo deixada de lado. É por isso que leio, para esquecer por algumas horas da nossa realidade e viver no mundo dos livros
ResponderExcluirOlá, Mariane.
ResponderExcluirConfesso que não sabia sobre o assunto. Mas em cada cidade do pais está acontecendo coisas semelhantes. Eu apoio os atletas que se esforçam e tem que serem apoiados sim. Mas cada vez que vejo alguma coisa referente as olimpíadas não tem como não pensar que estou a 1 ano em uma fila do SUS esperando uma cirurgia que nunca vem e ver o tanto de dinheiro que foi gasto nessa olimpíada e na copa. Por isso parabéns pela postagem, alguns políticos deveriam ler.
Blog Prefácio
Oi Mariane!
ResponderExcluirÉ triste neh? Eu creio que não só a UERJ esteja sofrendo. O Brasil não é um país em que a educação venha em primeiro lugar, infelizmente.
Mas estamos nessa luta com vc.
Não estou acompanhando as olimpíadas por não gostar mesmo, mas acho um absurdo o gasto que fizeram para os jogos enquanto muitas partes do Brasil são precisadas de tudo.
Enfim, ainda acredito que um dia seremos melhores, tenho esperança...
Bjo bjo^^
Um isto de vergonha, raiva, ódio, decepção... Enfim... o texto acima está esclarecedor e maravilhoso!!!!
ResponderExcluirBjks
Lelê
Oi Mariane!
ResponderExcluirConheço bem essa luta, na USP a gente enfrentava todos os anos, mas não me lembro de uma assim tão grande. Adoro a Martha Medeiros e achei sua reflexão belíssima! Parabéns!
Bjs, Mi
O que tem na nossa estante
Oi, tudo bem???
ResponderExcluirNem sei o que falar diante de um texto desse tão bem escrito e direto... a educação nunca ficou em primeiro lugar em nosso país mesmo... isso é um fato vergonhoso, mas é... sinceramente essas coisas são revoltantes, principalmente para nós, que olhamos para o lado e vemos o quanto é necessário ser feito e estamos de mãos atadas para fazê-lo, porque não temos o suficiente para começar... mas acho que devemos fazer a nossa parte... acredito que em algum momento iremos fazer a diferença. Xero!
http://minhasescriturasdih.blogspot.com.br/
Oi, tudo bem???
ResponderExcluirNem sei o que falar diante de um texto desse tão bem escrito e direto... a educação nunca ficou em primeiro lugar em nosso país mesmo... isso é um fato vergonhoso, mas é... sinceramente essas coisas são revoltantes, principalmente para nós, que olhamos para o lado e vemos o quanto é necessário ser feito e estamos de mãos atadas para fazê-lo, porque não temos o suficiente para começar... mas acho que devemos fazer a nossa parte... acredito que em algum momento iremos fazer a diferença. Xero!
http://minhasescriturasdih.blogspot.com.br/
Oi.
ResponderExcluirInfelizmente essa realidade está presente em muitos estados, como aqui no RS também. Mas não tira o peso e a seriedade do que vocês estão enfrentando. Ótimo texto, muito esclarecedor e reflexivo. Marta Medeiros escreve com qualidade e sensibilidade, é gaúcha também. Desejo que tudo possa ser resolvido da melhor forma. Beijos.
Que texto incrível! Aqui, em Fortaleza, a situação é exatamente a mesma. Toda a rede Estadual, incluindo a universidade, está em greve há mais de 3 meses. As escolas irão voltar terça-feira (16), mas a universidade continuará em greve. É uma pena saber que a educação no nosso país sempre acaba ficando para trás!
ResponderExcluirComo estudo em uma faculdade particular, confesso que não sei muito bem como anda as greves nas universidades publicas, claro que a gente ouvi falar, porém não sabe muito bem o que anda acontecendo. Fico muito chateada quando vejo e leio esse tipo de assunto, pelo fato de saber que o país em que vivo não se importa em melhorar a educação e a condição das faculdades e escolas, tanto para aluno quanto para professores, e perceber que muitos alunos sem se importam em lutar pelos próprios direitos. Gostei bastante do texto, e com certeza acho que vou levar para faculdade para um professor que tenho certeza que vai amar, e com certeza vai adorar discutir esse assunto.
ResponderExcluirOlá.
ResponderExcluirÉ, no mínimo, revoltante ver como o governo trata a educação nesse país. Algo que deveria ser prioridade. Principalmente em meio a tantos gastos para sediar uma olimpíada, nós brasileiros somos prejudicados com más gestões e falta de investimento nas áreas que mais necessitam.
5 meses em greve! Um semestre inteiro perdido!
Oi Mari, tudo bem?
ResponderExcluirÉ muito triste a forma como a educação é tratada no país. E não é só a educação. É a saúde, a segurança...
E quando as coisas parecem melhorar um pouco, alguma outra coisa acontece.
Eu acredito muito no poder da literatura, acredito que a gente pode mudar o mundo com ela. primeiro a gente muda a gente. E depois a gente muda o mundo. Literatura sim!
Poesia não é meu forte, mas reconheço sua importância :)
Beijooos
https://profissao-escritor.blogspot.com.br/
Oie! Primeiramente parabéns pelo texto, perfeito e mto mto vdd cada palavra dita...
ResponderExcluirA educação no Brasil está uma vergonha, lamentável ainda ter que nos deparar com mais absurdos como este...
Bjs!
Eu não sabia que a UERJ estava assim, mas aqui em SP também houveram casos deste tipo. É triste ver que a educação é pouco valorizada aqui no Brasil, em todos os estados né?
ResponderExcluirO Brasil mal tem verbas para se manter e quer sediar um evento deste tamanho, sinceramente não entendo isso!
Oi
ResponderExcluireu nem sabia que ainda tinha várias faculdades em greve, a que eu comecei a estudar esse ano também ficou um bom tempo, o que a minha irmã estuda aqui no Mato Grosso do Sul também ficou e ainda quando voltaram tiveram que lidar com o descaso e a falta de alguns recursos, é tão triste ver a forma que tratam o ensino no Brasil, e vez de dar valor nas faculdades
momentocrivelli.blogspot.com
Oi, Mariane
ResponderExcluirÓtima sua reflexão. Não estava totalmente por dentro do assunto, mas isso se repete muitas vezes em outros estados. Infelizmente é vergonhoso que para uma Olimpíada o dinheiro tenha aparecido, não é mesmo? Espero que um dia essa situação melhore.
Os problemas que a universidade estadual do Rio passa é mais um exemplo do que todas as outras universidades públicas do nosso país passam. Estudei em uma universidade estadual do Paraná e posso dizer que lá as coisas não são tão diferentes, durante meu curso tive alguns períodos de greve, não tão longo quanto este, mas que foram prejudiciais. É triste saber que os governos não querem valorizar a educação. Belíssima reflexão.
ResponderExcluirAbraço!
A Arte de Escrever
Seu texto ficou maravilhoso, muito bem escrito, e logo no começo me lembrou a Universidade Estadual aqui do Ceará, que é muito sucateada, está sempre em greve, inclusive agora. Eu estudo na federal, que é mais organizada e quase nunca tem greves, mas vejo amigos que estudam na estadual, e conheço seus problemas. É difícil ver como ótimas universidades são deixadas de lado, sem recursos. Sempre espero que melhore um dia.
ResponderExcluirAbraços :)
Bem como já saí da faculdade faz um tempo não sei dizer como as coisas andam. Mas o ensino público no país é realmente uma vergonha e isso desde a educação infantil.
ResponderExcluirOi Mariana
ResponderExcluirComo sempre você conseguiu com suas belas palavras trazer a tona mais um tema importante para reflexão. Infelizmente nosso país não tem nenhum interesse na educação, pelo contrário, quanto mais ignorante a população, melhor para eles. Na minha idade não acredito em grandes mudanças, acho que os brasileiros, em geral, são egoistas e só pensam neles mesmos, só somos patriotas para torcer no futebol. Acompanhando suas palavras aqui, espero de coração que sua geração faça alguma coisa pelo nosso país, pois a minha nada fez.
Abraços,
Gisela
Ler para Divertir
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Olá...
ResponderExcluirLindo texto... E infelizmente a dura realidade em todo o nosso país. Infelizmente a educação vem sendo deixada de lado já há algum tempo... Espero que isso mude em breve..
Beijinhos...
Muito lindo seu texto e imagino a dor que está sentindo.
ResponderExcluirÉ horrível saber que a educação está decaindo cada dia mais no nosso país. Com essa crise, ela vem sendo exterminada pouco a pouco, dia após dia, e eu queria fazer algo, embora não saiba bem o que.
Tá de da vergonha. Tá doloroso!