Resenha: Fellside

Título: Fellside

Autor: M. R. Carey

Editora: Fabrica 231

ISBN: 9788568432884

Ano: 2016

Páginas: 464

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Sinopse:

Uma história de terror moderna, perturbadora e emocionante, assinada pelo mestre dos quadrinhos M. R. Carey, pseudônimo de Mike Carey, roteirista de sucessos como X-Men e Hellblazer e autor do cultuado A menina que tinha dons, adaptado para a telona pela Warner Bros (ainda sem previsão de estreia no Brasil). Em seu segundo romance, Carey conta a história de uma mulher que vive em Fellside, uma prisão de segurança máxima localizada nos confins da Inglaterra. Acusada de ter incendiado o seu apartamento e matado por acidente uma criança, Jess Moulson vive afundada em culpa e medo, e sabe que não pode confiar em ninguém ali. Até que começa a ouvir a voz de uma criança. Uma criança morta, que tem uma mensagem para Jess.

Resenha:

Quando comecei a ler esse livro, fui sem nenhuma expectativa e sem saber o que estaria aguardando-me; foi um belo susto que tomei quando percebi que estava totalmente envolvida pela história e sem acreditar no que estava lendo. Quer saber o motivo? Confira abaixo.

Jess Moulson nunca teve muita perspectiva em sua vida depois que se tornou viciada em heroína e mantém um relacionamento complicado com seu namorado. Seu apartamento não tem quase nada de valor devido ao vício, pois vende suas coisas para comprar mais drogas; fica sempre em casa sem perturbar ninguém e tenta o manter o emprego em uma livraria. Certo dia, encontra um menino sentado na escada perto de sua porta e, de uma forma silenciosa e compreensiva, começa a criar uma amizade e a passar um pouco de segurança para o garotinho.

Por ironia do destino ou uma ironia dramática, a criança morreu em um incêndio causado aparentemente por Jess, que na data do crime estava inconsciente e tendo sérios problemas de saúde. Ao acordar no hospital, descobre a triste notícia e a culpa recai sobre si, desmotivando-a a averiguar e lutar por sua inocência diante do tribunal e acaba sendo declarada culpada diante de seu silêncio e provas que acusam seu envolvimento com o incêndio.

Ela acaba condenada a passar o resto dos seus dias em uma prisão de segurança máxima chamada Fellside, um lugar que ninguém gostaria de estar; os piores delitos, crimes e injustiças foram cometidos pelas presas desse lugar. A fama logo corre pelas celas e corredores de que a “ Assassina dos infernos” está em Fellside e que decidiu morrer por greve de fome, apenas ingerindo água ao longo dos dias por ainda sentir a culpa sobre seus ombros, mesmo quando não consegue se lembrar se foi a culpada.

“A verdade é algo que as pessoas constroem em suas cabeças, valendo-se dos fatos como matéria-prima. E às vezes os fatos acabam sendo deturpados no decorrer do processo”.

Contudo, algo faz Jess mudar de ideia e abandonar sua greve e dá-lhe um objetivo, mesmo que custe sua vida, uma promessa que vai requerer muita coragem, paciência e valentia. Em pouco tempo, a presa que estava quase definhando consegue obter uma força sobrenatural e conseguir sobreviver aos inúmeros problemas consequentes da falta de alimentação.

Jess não tem uma bela recepção dentro da prisão, um dos piores crimes é machucar uma criança, então acaba sofrendo inúmeros preconceitos e pré-julgamentos, mas há algumas mulheres que simplesmente a ignoram. Em meio a esse cenário diário, ela aprende a como tornar-se invisível e não provocar brigas.

Shannon McBride é uma grande contadora de histórias e não consegue conter-se após o que aconteceu entre ela e Moulson e começa a repassar a história verdadeira, mas aos poucos vai moldando-a aos ouvintes e deixando-a mais lapidada e melhor e assim a história espalhou-se por todo o Bloco G.

Entre as inúmeras histórias das presas, encontramos sobre o tráfico de drogas e como é o grande lucro entre os criminosos, além disso, o livro fala com detalhes sobre esses esquemas de como obter, transportar e traficar as drogas, sobre corrupção, negligência entre os altos cargos as, as injustiças tanto cometidas fora e dentro de Fellside.

O passado de Jess é um grande buraco, ela não parece ser alguém que se enquadra como uma assassina ou criminosa; seu namorado John, outro viciado em drogas, poderia ser um dos culpados pelo o que aconteceu, já que a levava ao limite pelo relacionamento abusivo que tinham.

“Jess teve consciência da agulha entrando, mas pensou ter sonhado. A ligeira pontada de dor com promessas de prazer, o artefato de um passado que devia ter sumido para sempre”.

Quanta agonia e aflição sentia ao ler sobre as crueldades e perigos que Jess sofria; ler sobre violência é sempre algo que nos faz sentir um pouco na pele e é desconfortável quando envolve inocentes; estamos tão acostumados com as violências diárias que é fácil perceber como são esses momentos.

Ao longo da leitura, ficava cada vez mais familiarizada com o cenário da prisão; sabia como era um pouco por causa dos filmes e séries que já assisti, mas todos eram sobre prisões masculinas. As diferenças são grandes, mas a hostilidade, cólera e intimidação são praticamente as mesmas. Também começamos a temer pela vida de algumas prisioneiras como a Buller e Shannon e claro a própria Moulson.   

A ligação entre os personagens tornava-se mais intensa e reveladora, o jogo que não havia aparecido antes está prestes a tornar a vida de Jess e outros envolvidos muito mais difícil do que imaginavam; o pior é que tentar contornar essa jogada poderia acarretar em muitos inimigos e trazer inúmeros perigos.

“– O ponto aonde eu quero chegar – Devlin retrucou– é que algumas pessoas são a doença. Não há nobreza em deixar essas pessoas continuarem vivendo. Isso só serve para jogar mais bosta nesse monte de merda em que estamos”.

As loucuras, vinganças, hostilidades, fúrias, mentiras, traições, corrupções e a dura realidade de conseguir sobreviver em meio pessoas pouco confiáveis era um fardo e tanto para Jess quanto para muitas pessoas. Se permanecer vivo já é difícil, imagine fazer e ter que obedecer certas ordens e pessoas sem poder fazer nada contra ou tentar escapar.

Cada vez que uma nova verdade era revelada, desencadeava novos eventos trágicos ou desconcertantes, a linha que ligava os personagens principais parecia cada vez maior e mais forte. Quando não havia escapatória, paz e um pouco de liberdade de escolha os planos entre os vilões da história pareciam mais realistas e há poucos passos de acontecer e não tinham escrúpulos e empatia com as outras prisioneiras e até os agentes.

A história não parecia que iria deixar-me mais vidrada e enlouquecida com tudo o que já tinha acontecido, entretanto estava completamente enganada! Algo tão aterrador e surpreendente acontece que me deixou inquieta e que foi a minha sentença final; se eu pensava em parar de ler em determinado ponto, não iria conseguir mesmo, isso porque muitos acontecimentos impressionantes e impensáveis já tinham aparecido.

Até aonde você chegaria para cumprir uma promessa? Seria capaz de cumpri-la mesmo quando parece impossível? Arriscaria tudo, incluindo sua vida para realizá-la? O valor de uma promessa pode ser bastante alto quando tudo o que a envolve é desconhecido, porém nada compra ou substitui a sensação e estado de espírito quando consegue cumprir aquilo que prometeu, mas, para isso, um longo caminho deverá ser percorrido por Jess.

Quando terminei a história fiquei sem palavras e com as lágrimas querendo sair, o que vocês devem achar um pouco loucura tratando-se de um thriller, no entanto, a forte história deste livro torna-se marcante, eu nunca cogitaria o desfecho. O autor surpreendeu-me  positivamente, sua escrita é tão envolvente e  eloquente que chega a ser inesperado. Um enredo que aparentemente envolve uma descoberta sobre um assassinato e que vai muito além dessa questão. M.R Carey embarcar-nos na sobrenatural e emocionante jornada de personagens que querem apenas justiça. Terminei esse livro sentindo-me incrivelmente tocada pela força que essa história carrega, nunca pensei que teria outros sentimentos além de angústia, medo, desespero, raiva e aflição com um thriller, mas Carey mostrou que eu estava novamente equivocada. Fellside é uma história intensa; depois que embarcar, não terá mais volta, estará aprisionado com esse livro até o fim da sentença.

A Fábrica 231 impressionou-me com esse livro, esta capa está muito bonita e melhor do que a original, os altos relevos localizados ficaram incríveis, a tradução do Caco ficou impecável, a diagramação está perfeita e a revisão excelente. 

Se você gosta de um thriller com bastante ação, suspense e história vai enlouquecer com as quatrocentos e sessenta e duas páginas de puro deleite.