25/07/2016

Resenha: Inácio: o cantador-rei da Catingueira

Título: Inácio: o cantador-rei da catingueira
Autora: Arlene Holanda
Ilustrador: Alexandre Teles
Editora: Gaivota
ISBN: 9788564816459
Ano: 2014
Páginas: 76
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Sinopse:

Inácio de Catingueira, menino-escravo, um dos precursores do repente no sertão da Paraíba, deixou sua história na boca do povo, como memória cultural coletiva. E é a partir da tradição oral que a história surge neste livro, como uma biografia romanceada, mais ligada às tradições do que a fatos documentados e informações oficiais, trazendo traços da cultura de um povo que, há muito, é renegado pelo racismo e pelo preconceito.

Resenha:

Inácio da Catingueira foi um menino que nasceu em uma fazenda escravista. Por tal motivo, ainda durante a infância, foi separado de sua mãe – que perdeu todos os privilégios que tinha na casa-grande por, supostamente, ter se relacionado com um homem branco – e foi inserido na sociedade como um jovem à margem, escravizado e um quase órfão.

Contudo, Inácio redescobriu o prazer da vida nos cânticos. Contudo, não eram músicas tradicionais que faziam a sua cabeça, mas o “repente”. Esse estilo é uma espécie de rimas musicalizadas, construídas no improviso, onde os dois cantadores participantes travam uma batalha de versos. Aliás, é uma marca da cultura brasileira, especialmente no Nordeste.


Como cantor, Inácio conseguirá se redescobrir como homem, como humano. Também é com a sua voz que seu nome é marcado na história. Contudo, nem o sucesso pôde apagar todas as marcas que a escravidão deixou. Nessa biografia romantizada, que se aproxima muito mais das tradições do que dos livros de história, você conhecerá a vida de Inácio, as marcas que ficaram na sua vida, e também a triste situação social do Brasil escravista.
“O cacique Piancó e seus guerreiros lutaram até as últimas forças. Dizem que seu nome, traduzido para a língua portuguesa, significa terror, pavor. Por fim, os povos indígenas foram escorraçados, e começaram a se instalar as fazendas de gado. Fazendeiros truculentos faziam valer suas próprias leis. Trouxeram filhos, mulheres, escravos, bois, cavalos, tropas de mulas e jagunços. Erigiram casas-grandes e fizeram edificar igrejas em honra aos santos de sua devoção. A população nativa, assim como a escravizada, foi compelida a troca de crenças e divindades” (p. 13).
Nesta reconstrução do trajeto de Inácio, Arlene cria mais do que um bom livro: ela presta um serviço à sociedade. A obra vai além de contar a vida de um homem escravizado que marcou seu nome na história e na cultura brasileira; mostra a realidade crua e dolorosa do sistema servil que vigorou no Brasil. Essa explanação da realidade é excelente, principalmente para o público mais jovem ao qual o livro se destina, afinal, ajuda a entender a nossa realidade hoje e evita que voltemos a repetir erros do passado.

Devido ao tamanho diminuto do livro, por ele ser juvenil e ter uma proximidade maior com a cultura oral, não há um aprofundamento muito grande da biografia de Inácio. Esqueça aquela estrutura de datas, dias e cronologia precisa. A romantização deixa o texto mais leve e propício para que se conheça a vida do protagonista e tome-se conhecimento da sua arte.


Além das críticas sociais e da boa escrita da Arlene, a obra ainda conta com belíssimas ilustrações de Alexandre Teles. Todas em amarelo e preto, como na capa, retratam momentos da vida de Inácio, seja praticando a sua arte, seja se relacionando com pessoas que marcaram a sua vida, ou até mesmo praticando o seu trabalho duro de escravo.
“O alojamento dos escravos ficava perto dos currais e não era propriamente uma senzala. Mas havia, fixadas na parede, argolas de ferro providencialmente dispostas para alguma emergência. O cheiro de terra, do melaço de cana e do esterco dos bois fundiam-se num aroma específico, que se espalhava pelas redondezas” (p. 20).
A parte física, além das ilustrações, não deixa a desejar. A capa é bonita e chamativa, ao menos para quem já tenha algum conhecimento sobre quem foi Inácio da Catingueira. A diagramação é um luxo: folhas grossas, diversos detalhes coloridos, letras e espaçamento confortáveis e ainda possui trechos das músicas do repente destacados. Ademais, a revisão está perfeita, deixando a leitura ainda melhor.


Em suma, Inácio: o cantador-rei de Catingueira é uma obra bela, rica e perfeita para conhecermos mais um aspecto da vasta cultura brasileira. Sem dúvidas, vale a leitura.

Outras fotos:






Comentários
20 Comentários

20 comentários:

  1. Oie,
    não conhecia o livro, mas confesso que ele não me chamou atenção.
    Quem sabe em outro momento.

    bjos
    http://blog.vanessasueroz.com.br

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  2. Gostei do livro pelas ilustrações serem belas, a história por si só é bem emocionante e de superação, gostei bastante =) . Como sempre, uma ótima resenha.

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  3. Oi Marcos!

    Apesar de ter ficado curiosa com o início da resenha, desanimei qdo li que o livro é juvenil e não tem um aprofundamento maior sobre o personagem.

    Enfim, se um dia eu tiver a oportunidade de lê-lo, claro que o farei, mas por enquanto, passo!

    Ótima resenha como sempre! Bjo bjo^^

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  4. Não é um livro que me chame a atenção.
    Gostei do enredo e do fato de mostrar como a arte pode ajudar uma pessoa a superar suas dificuldades. Pra quem gosta de conhecer e redescobrir a cultura brasileira, deve ser um prato cheio. Mas confesso que pra mim não agradou.
    As ilustrações são indubitavelmente belíssimas.

    Confissões de uma Mãe Leitora

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  5. Por que eu não li este livro ainda, heim??

    QUERO QUERO QUEROOOO ♥ Amei!!!

    Adoro livros que trazem nossa cultura, nossa história, nossa língua, nosso povo mesmo. Tenho certeza que amarei ♥

    Bjksssssss

    Lelê

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  6. Olá, Marcos.
    Confesso envergonhada que não conhecia ele ainda. Mas achei o livro bem interessante. Não sou muito fã de livros de biografia, mas como ele é diferente, eu leria. E também acho legal conhecer mais de nossa história através de pessoas como ele.

    Blog Prefácio

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  7. Não conheço a obra de Inácio da Catingueira, mas me interessei bastante pelo livro, por se trata um pouco da história do Brasil.
    Mesmo sendo escrita de uma forma diferente, dá pra ter uma noção de como ele viveu, assim como tantos outros negros escravizados.

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  8. Não conhecia o livro, mas pela resenha me interessei bastante. Gostei muito da capa também :)
    Voltei com o blog e estou esperando pela sua visita!

    http://www.biigthais.com/

    Beijoos ;*

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  9. Oi.
    Apesar de sua resenha estar ótima, muito bem explicada e clara nos detalhes da obra, não é uma leitura que me atraia. Com certeza é um livro muito enriquecedor em termos de cultura brasileira. Mas no momento deixo passar a dica. Obrigada. Abraços.

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  10. Mto bom Marcos! Adorei!
    Achei o livro de uma riqueza, cultura, capa, enredo, td mto bom!
    Qro ler com toda ctz!
    Bjs!

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  11. oooi!
    Eu gostei bastante desta capa, mas não consegui achar um adjetivo para expor aqui.
    Acredito que esta biografia diferenciada faça com que a obra seja tão rica e cheia de cultura para mostrar.

    SIGA BIO-LIVROS | Página | Magazine Você | Produtos Natura

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  12. o livro me ganhou só pelas ilustrações (por um acaso, parabéns pelas fotos)e essa capa que coisa mais linda. o engraçado é que qd eu vi o título eu fiquei já ouvi esse nome antes, deve ter sido dos meus amigos da PB
    e quando eu li a resenha eu fiquei: preciso dele para ontem, nem que seja para chorar
    obrigada pela dica, além de pelo jeito uma bela obra nacional ele tb conta um pouco da nossa história

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  13. Oi Marcos, tudo bem? Ainda não conhecia o livro, mas gostei de conhecer. Ele tem tudo que eu gosto. É curtinho, para um público jovem, traz questões sociais... enfim. É a minha cara :)
    Com certeza já vai para a lista.
    beijos
    https://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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  14. Oi, Marcos
    Adorei conhecer o livro que sem dúvidas é interessante. Adoro livros que tenham como tema a escravidão e adoraria ler uma obra assim juvenil e rápida. Fiquei curiosa, ainda mais por ter elogiado a obra. Além disso, gostei desse amarelo nas ilustrações. A diagramação deve estar linda mesmo!
    Ótima resenha, como sempre!

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  15. Oláá
    Não conhecia o livro, mas ele tem uma proposta bem interessante, vou considerar lê-lo! ^^
    Abraçoos

    Jovem Literário

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  16. Marcos
    Este livro por todas as características mostradas em sua resenha é de leitura fácil e ao mesmo tempo enriquecedora. Não é um livro que eu compro normalmente, mas é um que eu leio se tiver em mãos. Acredito que me encantaria com a história de Inácio. As características físicas estão belíssimas.
    Abraços,
    Gisela
    Ler para Divertir
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  17. O Livro é bem Lindo! Mas não me interessei!
    Para quem gosta do gênero tenho certeza que vai gostar. O Tema até parece ser legalzinho, mas...

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  18. Oi Marcos!
    O livro realmente é lindo demais! Essa mistura de amarelo e preto que indicam as várias fases da vida de Inácio dá um toque especial a obra. Não curto muito biografia, mas saber que esse livro não tem cronologia ajuda bastante. Gosto de saber sobre a vida de pessoas que mudaram sua sorte de uma forma leve e que fique na memória, e esse livro deve ser nesse estilo, principalmente no relato da escravidão. Então se tiver oportunidade, lerei com certeza. Abs!

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  19. Não conhecia este estilo musical mostrado na obra, gostei muito de conhecer um pouco sobre ele e gostei de como a história foi contada. Parece ser um livro muito interessante. Gostei muito da resenha.
    Abraço!
    A Arte de Escrever

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  20. Não conhecia a obra, mas acabou de me conquistar!
    Gosto muito de livros sobre a escravidão, e esse parece ser muito bem escrito, com profundida e fatos verídicos.
    Só não curti muito a capa.
    bjs

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