16/07/2016

Resenha: O Sol Desvelado

Título: O Sol Develado
Autor: Isaac Asimov
Editora: Aleph
ISBN: 9788576571667
Ano: 2014
Páginas: 288
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Sinopse:

Após as reviravoltas de sua última missão, o detetive Elijah Baley é recrutado para investigar um caso de assassinato aparentemente insolúvel. Obrigado a enfrentar sua fobia de espaços, ele viaja até Solaria, um planeta Sideral de apenas 20 mil habitantes, mas onde cada ser humano dispõe de um contingente de 10 mil robôs positrônicos para lhe servir.

Volume anterior: As cavernas de aço

Resenha:

Esse texto não possui spoiler da obra anterior

Depois da última missão, o inimaginável acontece com Baley: ele é convocado para investigar mais um assassinato. Contudo, dessa vez, em um planeta Sideral. Se estar com um sideral é ruim, imagine ficar em seu planeta. Pior: por lá, há apenas 20.000 humanos. As extensas propriedades, que chegam a medir quilômetros, abrigam uma ou duas pessoas. Isso torna o caso complexo? Então tem mais: lá as pessoas não se veem pessoalmente, não se tocam, não se aproximam. Isso é considerado um ato inferior, quase “animalesco”. Toda comunicação é feita a distância, através de vídeo chamadas.

Como descobrir um assassino em uma sociedade onde as pessoas não se tocam e onde você pode andar quilômetros sem ver ninguém? Como fazer uma investigação de verdade sem quebrar as regras de etiqueta de uma sociedade tão diferente? É isso que Baley precisa descobrir.

Partindo dessa premissa, Asimov volta a brincar com as três leis da robótica, que são: 1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal. 2. Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei. 3. Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis. As leis, que na teoria são perfeitas, mostram falhas. E são dessas falhas que nascem os crimes e os assassinatos, tornando todo o livro incrivelmente lógico, inteligente e envolvente.
“Um detetive é um sociólogo também; um sociólogo por uma questão de experiência e de prática, caso contrário não seria um bom detetive”.
Apesar de ter uma premissa parecida com o livro anterior, O Sol Desvelado mostra-se bem superior ao livro As Cavernas de Aço. Isso porque, na presente obra, temos um maior dimensionado das questões políticas e sociais. O autor mostra, de maneira bem inteligente, que mesmo numa sociedade aparentemente perfeita, a ganância pode motivar lutas internas e que desenrolar problemas inimagináveis. Ademais, ainda há um diálogo sutil, mas inteligente, com o pensamento da luta de classes¹.

Além dos aspectos sociológicos, o que mais me chamou a atenção na obra foi a perspectiva filosófica que ela permite empreender. O que Baley alcança no presente livro me parece análogo ao que Platão relata em o mito da caverna². Na primeira obra, o protagonista ainda está preso em suas cavernas de aço, com um pensamento limitado, com uma visão turva da realidade. Na segunda obra, o brilho do Sol lhe permite ver além; faz com que ele passe a enxergar não apenas sobras, mas a realidade como ela é. Isso faz com que o leitor reflita sobre diversos aspectos em sua realidade, além de proporcionar um amadurecimento extraordinário ao protagonista.

Um detalhe importante é a importância de uma leitura não anacrônica. Devido ao autor ter escrito a obra há muito e ter tentado acertar o futuro, alguns aspectos parecem um tanto deslocados diante da nossa visão atual. Contudo, se pensarmos na perspectiva da época, tudo faz muito sentido e o livro merece todo o destaque que sempre recebeu. Dos trabalhos do autor, talvez a série Fundação seja a mais atemporal, já que brinca sempre com os aspectos sociológicos da busca do poder.
“Estava a ponto de descobrir algo. Poderia não ser muita coisa, mas era o tipo de investigação que ele sabia fazer bem. Algo que ele sabia fazer bem o suficiente para ser chamado ao outro lado do universo para fazer”.
Além do bom enredo, a obra também merece destaque pela excelente parte física. O livro possui uma capa bonita e que reflete bem o ar futurista que encontraremos no enredo. A diagramação também é muito boa: objetiva e confortável. A tradução e revisão estão excelentes, como é padrão da Aleph. Desta forma, tudo contribui para uma boa leitura da obra.

Em suma, o que se pode se esperar da obra é uma sequência bem superior ao livro anterior, com um excelente aprofundamento sociológico e uma questão filosófica latente. Apesar de alguns pontos que parecem não encaixar, devido ao tempo em que a obra foi escrita, a leitura ainda é mais do que recomendada.

Notas:

1.      Luta de classes é um fenômeno social que prevê um antagonismo entre pessoas de diferentes classes sociais, onde cada uma das classes buscará seus próprios interesses. A luta perpassa os campos econômicos, políticos, sociais e históricos. Karl Marx foi um dos principais pensadores da teoria. Para saber mais sobre, desbrave os livros O Capital ou Manifesto do Partido Comunista.

2.      Mito da Caverna pode ser encontrado no livro VII da obra A República, escrita por Platão. O mito mostra a libertação da “escuridão”. Para saber mais sobre, desbrave o livro A República


Comentários
18 Comentários

18 comentários:

  1. faz tempo que eu quero ler as obras de asimov, mas eu não conhecia essa série(são qts?)
    adorei as notas ;) explicações são sempre bem vindas
    eu acho impressionante como as obras dele apesar de ter tanto tempo são atuais.
    bom, agora fiquei em dúvida por qual livro vou começar

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  2. Oi Marcos, tudo bem? Eu preciso dar um jeito de ler algo do autor, mas tá difícil. É muita coisa e sempre acaba ficando difícil ler e conhecer tudo que eu gostaria :(
    Essa premissa é muito legal, achei interessante isso das pessoas não poderem se tocar e tal. Fiquei curiosa.
    Beijos
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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  3. Olá Marcos!
    Faz um tempinho que me indicaram as obras de Asimov, mas ainda não li nd, qro começar o qto antes, quem sbe já não começo por esta...
    Adorei o livro, o enredo mto bom tbm.
    Bjs!

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  4. Adorei esse livro por ter perspectiva filosófica ♥ Amo filosofia e sociologia =D
    O tema proposto do livro me cativou muito e já está na minha lista de desejos.

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  5. Olá, Marcos.
    Apesar de eu ter vontade de ler Eu Robô do autor por causa do filme, não tenho interesse nos outros livros dele, a não ser que eu goste muito de Eu Robô. Mas não tenho uma experiencia muito positiva com o autor. Meu sobrinho que é fã dele vivia insistindo para eu ler os livros dele e acabei não gostando muito. Mas quem sabe. E que bom que esse se mostrou superior ao anterior.

    Blog Prefácio

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  6. Oi Marcos!

    Vc sabe que, por sua culpa, eu comprei Eu, Robô neh? rsrsrsrsrsr
    Já havia assistido ao filme e gostado, mas depois de ler sua resenha, fiquei desesperada pelo meu exemplar.
    Bem, com esse volume não foi diferente, vou adicioná-lo na minha lista de desejos e comprá-lo assim que possível.

    Adorei a resenha. Como nunca li nada do autor, fico cada vez mais encantada e curiosa.

    Bjo bjo^^

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  7. Sabe, gostei demais do primeiro livro, e não por que raios eu não li este.

    Bom, pelo jeito... de acordo com sua resenha, eu devo gostar bastante desse também. Tanto quanto do primeiro.

    Adorei né, lógico!

    Bjkssssss

    Lelê

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  8. Oi, Marcos
    Os aspectos sociológicos do livro é, talvez, o que mais me prenderia a obra, mas uma pena que não li o primeiro livro. Na verdade não estou lembrando muito dele.
    Ótima dica e resenha.

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  9. Oi.
    Não li nada desse autor, mas o livro parece ter um enredo bem legal. Mas infelizmente não dá para ler tudo que achamos interessante, então, no momento deixo passar a dica. Quem sabe mais adiante. Sua resenha sempre muito boa, claro. Abraços.

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  10. Como a vida toma rumos inesperados... é o que me vem a mente depois de ler essa resenha. Acorde em 2016 com a intensão de ler mais ficção cientifica, especialmente Isaac Asimov, o ano já avançou por quase 7 meses completos e eu entrei foi numa quase eterna vibe romance histórico caindo de cabeça atualmente na prosa existencialista... Daqui a pouco vou me pegar lento Sartre e relendo Camus... porque olha to em Samuel Beckett e vê só... kkkkD

    Dei uma devaneada, mas de um desconto que eu lendo romance histórico já sou esquisita, agora imagina lendo gente esquisita como eu!?!??! kkkkkkkk Quero muito ler mais de Asimov ainda nessa vida, sua resenha me lembrou o porque e me fez sentir aquela urgência sabe... A Aleph sempre vem com edições incríveis e sei disso pq tenho lá meus livros dessa editora tanto na estante quanto no kobo!

    Pandora
    O que tem na nossa estante

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  11. Lembro do meu professor de Java ter me recomendado os livros de Asimov na época que fiz me curso de TI.
    Hoje, dois anos depois, ainda não encontrei uma obra dele que me interessasse. Talvez por nunca ler nada mais que o título.
    Gostei bastante da premissa desse livro e fiquei curiosa com a obra. Apesar de ser sequencia de uma série, não parece ter muita ligação com o livro anterior, então talvez eu conseguisse ler sem ficar muito perdida.
    Fiquei curiosa pra saber como o autor mesclou o suspense/mistério, com os elementos futuristas e sociológicos pra compor esse livro.

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  12. Oláá,
    O livro tem uma premissa incrível, mas não é o tipo de livro que eu costumo ler, porém gostei de ler a resenha e saber suas impressões.
    Abraçoos

    Jovem Literário

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  13. Marcos
    Come sempre sua resenha está espetacular. Muitos detalhes me chamaram a atenção para a obra, principalmente o aspecto social. E eu acredito que não vamos nunca conseguir atingir algum tipo de sociedade perfeita, pois o ser humano é muito complexo e precisa de desafios, se não os tem, ele vai cria-los (mesmo que sejam voltados para o mal).
    Abraços,
    Gisela
    Ler para Divertir
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  14. Nossa, o autor conseguiu criar um mundo bem bizarro e inimaginável, mas genial!
    Gostei bastante do que li aqui, é uma obra um tanto inusitada, bem diferente do que leio.
    Vou colocar na minha lista de leituras <3

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  15. Isaac Asimov não é um dos meus autores preferidos, mas esse livro parece fantástico!
    Ele juntou dois temas muito bons!!!

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  16. Gostei muito da premissa da obra. O mundo onde Baley terá que investigar um assassinato é bem interessante, os humanos não poderem manter contato físico, bem interessante. O livro trás uma ótima discussão, pelo que li em sua resenha, sobre os relacionamentos humanos, então deve ser uma obra bem interessante. Gostei muito da resenha.
    Abraço!
    A Arte de Escrever

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  17. Gostei muito, parece ser um livro muito bom e sinceramente, achei bem diferente de tudo que já li! rsrsrs
    Nunca li nada do Asimov, mas anotei o nome aqui, e vou procurar esse mesmo pra ler, porque curti muito a premissa, espero que eu consiga entender bem.
    bjs

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