25/09/2016

Desbravando Nós: A minha estante sou eu


A minha estante sou eu. A minha estante é o que eu fui. Ela é, também, quem estou me formando. Em breve, será quem eu me tornarei. A minha estante foi mudando enquanto me constituía gente, enquanto fazia-me pessoa humanizada, mulher dona de si. A minha estante é uma eterna construção de mim, das belezas e das angústias de minha existência.

Eu não recordo quando o primeiro livro descansou nessas simples prateleiras de madeira. Porém, estou quase certa o primeiro livro a repousar aqui foi escrito pelo Nicholas Sparks. Foi ele, com suas histórias de amor, sempre sofridas e até parecidas, que me fez sentir, pela primeira vez, uma fome literária. Antes dele, só havia livros lidos por mera obrigação escolar. Querido John, Diário de uma Paixão, A Escolha... E todos os outros, que se confundem em minha memória, fazem-me sentir um aroma de nostalgia: parece que foi há muito tempo, mesmo que não tenham passado nem cinco anos, imagino.

Depois, vieram outras releituras apaixonadas do Pequeno Príncipe e descobertas maravilhosas: A Menina que Roubava Livros, O Menino do Pijama Listrado, O Caçador de Pipas, A Cidade do Sol... Com estes, misturam-se alguns clássicos, como Senhora e O Meu Pé de Laranja Lima. Além desses, outros, que já foram morar em outras estantes, e até que vieram emprestados de outros repousos, constituíram-me e modificaram-me em diferentes medidas, por diferentes sensações.

Deleitei-me nas mais diversas escritas poéticas: de Quintana a Carpinejar, viajei. Apaixonei-me pelo poeta menino, Manoel de Barros, e repensei minhas sensibilidades com Mia Couto. Caminhei com Fernando Pessoa e rebelei-me com Galeano. Deixei de ser com eles e fui outra comigo mesma.

Não sabia, mas havia ainda mais. Muito mais. O interesse pela educação reformou a mim e a estante. Espaços abriram-se para Paulo Freire e companhia. A companhia, aliás, era boa, ainda é.  Tornei-me, e torno-me, todos os dias, um pouco mais, contadora de histórias. As miçangas e a estrelas, confesso, não sei se vieram antes ou depois.

As melhores companhias desse mergulho, porém, foram delas, das mulheres. Mulheres que lutaram por nosso lugar na literatura e onde mais quisermos estar. Simone de Beauvoir e Charlotte Perkins Gilman fizeram-me rasgar aquilo que me condicionava enquanto mulher. Fizeram com que eu pudesse enxergar-me e, assim, enxergar tantas outras mulheres que começaram a ser prioridade em minhas compras e leituras: Conceição Evaristo, Virgínia Woolf e tantas que ainda não li, porém, que estão em minha estante, em minhas listas e em meu desejo de criar laços de resistência e luta.

A minha estante sou eu, não me canso de repetir. A minha estante é o que fui, não canso de relembrar. Ela é, também, quem estou me formando; por isso, não canso de agradecer. Em breve, será quem eu me tornarei e sinto que ficarei surpresa e aliviada pela pessoa que serei. A minha estante foi mudando enquanto me constituo gente, enquanto faço-me pessoa humanizada, mulher outra, dona de si. A minha estante é uma eterna construção de mim, das belezas e das angústias de minha existência. A minha estante é Mariane. E Mariane sou eu, pronta para ser outra, sempre que a vida, e os livros mostrarem-me novos caminhos. 

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Comentários
19 Comentários

19 comentários:

  1. Como sempre você trouxe um texto belamente escrito, e concordo com o que disse, realmente nossa estante é exatamente o somos, e o que fomos. Seu texto me lembrou dos meus primeiros livros. Depois das leituras obrigatórias da escola, que nem foram de todo ruim, tiveram muitas boas como A Ladeira da Saudade e Dom Casmurro, mas mesmo assim, depois das leituras obrigatórias da escola, os primeiros livros que li e amei foram os de Harry Potter, eles me colocaram no mundo da leitura, e isso foi maravilhoso.

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  2. Olá, Mariane. Olá, Marcos.

    Parabéns pelo texto, Mari, belíssimo. Realmente podemos nos ver em nossas estantes. Às vezes, quando tiro um tempinho para arrumá-la, me pego observando livros antigos, meus primeiros livros, e fico relembrando o que eu senti ao lê-los.
    Lembro que meus primeiros livros foram os da saudosa coleção vagalume, e minha primeira leitura, fora os gibis, foi O Caso da Borboleta Atiria.
    Quantos livros lidos e quantos ainda lerei...todos eles levaram um pedacinho de mim e deixaram um pedacinho deles! <3


    Beijos
    - Tami
    http://www.meuepilogo.com

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  3. Ah que texto lindo, você me fez parar e refletir um pouco.
    Lembrei do primeiro livro que li e o quanto foi maravilhoso poder ler ele.♥
    Art of life and books.

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  4. Lindo!!!!
    Que maravilha ler um texto assim, com tanta poesia, tanta verdade e tanto amor. Livros são nossos eternos formadores,em uma estante é possível ver ali, todo o mundo de uma pessoa estampado.
    Diversas capas, inúmeros autores...mas todos trazendo a magia que povoa em cada um de nós!
    Amei!
    Beijos

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  5. eu adorei o texto!!!
    e concordo somos nossa própria estante cada livro lido é uma experiência vivida e lições aprendida. em especial, aqueles que a gente ler só pelo prazer de ler
    não que os obrigatórios não ensinem, mas a gente passar a raiva do "ter de" e aprender algo é mais complicado
    p.s. amei suas fotos! o quadro! e a raposa ! que coisa mais fofa!

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  6. Olá, Mariane.
    Ótimo texto. A nossa estante mostra exatamente quem somos no momento mesmo. Eu só fui ter a minha depois de velha, não tinha dinheiro para comprar livros, por isso frequentava a biblioteca municipal. Mas é engraçado como meus gostos foram mudando ao longo do tempo.

    Blog Prefácio

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  7. a minah estante tb foi mudando. adorei o post. eu amei orgulho e preconceito. não li esse da beauvoir. adorei o quadrinho do pensamento feminista. esse da woolf tb não li. comigo no ano passado aconteceu algo marcante e triste e hj abrigo duas estantes que foram da minha infância. uma minha e outra da minha irmã. uma agora está com os livros a ler. outra com os mais marcantes recentes. e no escritório tenho um armário com filas e filas de livros. mas esses sempre foram assim, só aumentando. tb as autoras me povoaram e de uns anos pra cá são constantes. amo mia couto. beijos, pedrita

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  8. Oi Mari!

    Que texto bonito, minha estante mudou tanto, começou quando eu estava na escola e agora é muito diferente. Inclusive bem maior rsrsrs E eu sempre quis ter O Meu Pé de Laranja Lima repousando nela,um dia ainda terei <3

    Parabéns pelo post!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  9. Nossa, seu texto me deixou pasma. Parecia que estava me descrevendo. Lindo mesmo! Nicholas Sparks também foi o autor que me despertou o amor pela leitura, li Querido John em três dias e nunca mais parei. Bjos!

    Indiquei o blog para o prêmio dardo blogger - Blog Literário 2

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  10. Oi, Mariane!!
    Belas palavras!! Como é bom ler um texto tão lindo como esse que nos faz parar e refletir um pouquinho sobre quem nós somos!! Amei!! No momento minha estante reflete um pessoa que está lendo um pouco de tudo: aventura, fantasia, romance, terror e suspense.
    Beijoss

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  11. Olá!! Sua estante eh recheada de obras excelentes
    Realmente estantes contam um pouquinho de cada história...os gêneros representam mto!
    Bjs!

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  12. Minha estante também é um reflexo do que sou, um pedaço de mim, um conjunto de influencias que me tornaram quem sou. Adorei seu texto, me identifiquei muito com a forma como você narra sua relação com seus livros, seus autores e como eles foram chegando a sua vida. É lindo!!!

    #DoQueEuLeio

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  13. Olá.
    Amei o texto, porque me identifiquei profundamente com ele. Gosto de ficar admirando meus livros e ver aqueles bem antigos, os quais aprendi o amor a leitura, como a série Vaga-Lume, os gibis, os romances de banca, as leituras de obras nacionais para a escola, depois muitos livros para a faculdade...enfim, são muitos momentos. E hoje outros gostos literários foram acrescentados e muitos livros desejados. Suas palavras são perfeitas, parabéns pela sensibilidade. Beijos.

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  14. Texto ótimo! Muito bem escrito, e apesar de ter um tema simples, é bem reflexivo, devo admitir. Gostei de saber um pouco mais sobre você e como você pensa, e confesso que me identifiquei em alguns aspectos. De fato, a estante mostra quem somos de certa maneira. Gostei muito e espero ver mais textos como esse por aqui.
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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  15. Oi,que texto lindo!
    Sim,que maravilha que sua estante,com todos os seus livros ,de alguma forma conte a sua história.
    E em como ,com o passar do tempo ela foi sendo preenchida com escolhas de acordo com o SEU tempo.
    E como é importante apreciar cada modificação

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  16. Oi, Mariane
    Que lindo texto! Acho que todos nós pensamos assim, não é mesmo?
    Nossas estantes tem tudo e mais um pouco de nós mesmas, e são tudo aquilo que somos.
    Adorei.

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  17. Que texto lindo, realmente nossa estante reflete o que somos, o que lemos, o que queremos e o que apoiamos, as vezes fico olhando para ela, e lembro até de acontecimentos do dia que comprei ou ganhei tal livro, assim minha estante me conta uma história, forma o que sou. Um dos meus primeiros livros também foram Pequeno Príncipe, e não poderia ser melhor

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  18. Mariane
    sua estante é bastante diversificada e muito cultural. Nunca li Nicholas Sparks mas comecei a gostar de ler com Senhora de José de Alencar. Nos meus 49 anos de vida já li de tudo e tenho um caso de amor com minha estante.
    abraços
    Gisela
    www.lerparadivertir.com

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