11/09/2016

Entrevista: Diogo Rosas G.


Nesse mês de homenagem à literatura nacional, teremos, além de dicas e resenhas, diversas entrevistas. Abrindo essa sequência, temos o autor Diogo Rosas G. – autor do livro Até você saber quem é (resenha).
Confira, abaixo, a entrevista com ele:

1. Olá, Diogo. Primeiramente, agradeço a disponibilidade para conversar com o blog. É uma honra tê-la aqui conosco. De início, conte-nos um pouco sobre você. Quem é o Diogo Rosas G.?
Eu é que agradeço a gentileza do convite, começando envergonhado por não saber responder a primeira pergunta. Os dados biográficos estão na orelha do livro (nasceu em Curitiba, em 1976... morou... atualmente é...), mas acho que toda pessoa, ao olhar para a sua própria biografia, tem uma certa sensação de "não é bem isso". Um romance chamado "Até você saber quem é" trata, é claro, dessas questões. No entanto, para quem não o leu ainda e tem curiosidade pela frieza dos fatos, nasci em Curitiba em 1976, sou escritor, casado, dois filhos, católico. Gosto de ler (para mim e para os meus filhos) e ir ao cinema. Não gosto de bares, muita gente junta e barulho.

2. O seu livro tem uma temática bem diferenciada das que costumamos encontrar na literatura contemporânea, principalmente se pensarmos em uma literatura de entretenimento. A forma de abordar o enredo também. De onde surgiu a ideia do livro e como foi o desenvolvimento dele?
Eu estava passando um mau momento na vida, de grande confusão e decepção comigo mesmo, e resolvi escrever um romance para tentar me ajudar a sair disso. O tema do pacto fáustico e de sua presença na literatura brasileira era algo que andava na minha cabeça, junto com ideias de morte e renascimento. Mas era uma mistura vaga, que precisou de muita depuração para virar livro. O mais curioso é que a estrutura - o número de capítulos, a(s) voz(es) narrativa(s) e o desfecho - vieram primeiro, eu vi tudo isso muito claramente já no comecinho do trabalho. De resto, a escrita foi muito difícil. Sei que muita gente já disse isso antes do que eu, mas é mesmo um processo frustrante, você escreve um trecho, relê, acha uma porcaria, vai dormir se sentindo um burro, volta, recomeça.       

3. Daniel, um dos seus protagonistas – porque eu também classifico Roberto dessa maneira –, é um personagem complexo, obsessivo e muito bem trabalhado. Como foi a construção dele? Você se inspirou em alguém?
Como eu disse, estava com ideias de morte, sobrevivência e ressurreição na cabeça quando escrevi o romance. Bem, Daniel é o personagem que mata, o escorpião posto contra a parede, de certa forma. Não me inspirei em ninguém em especial, mas creio que não é difícil ver pessoas como ele - sombrias, pesadas, inteligentes - por aí. É um tipo relativamente comum.    

4. É possível perceber, na sua obra, um cuidado acima do normal com a linguagem; não há qualquer palavra fora do lugar. Como foi a construção desse aspecto do livro?
O cuidado que procurei ter foi o de tentar escrever do ponto de vista de uma pessoa que viu a morte, de alguém que, de certo modo, morreu e ressuscitou. Me parece que uma experiência como essa gera uma certa secura, uma contenção a respeito do que precisa ser dito e do que deve ser calado. Se fui bem-sucedido, bem, isso obviamente é outra história. Mas essa é a chave da linguagem do romance.

5. Na sua obra, Curitiba não é só um lugar, mas um ente com vida própria, com sua própria aura. Qual a sua relação com a cidade? Essa “vida” que a cidade possui tem algum significado especial?
Sim, é claro. Daniel e Roberto são dez anos mais velhos do que eu. Eles circulam adultos no cenário da minha infância e adolescência. Apesar de sempre ter sido muito caseiro - concordo com Pascal quando diz que todos os problemas na vida surgem quando saímos de nosso quarto - andei muito por Curitiba e guardei dela uma memória geográfica muito forte. Recordo-me da irregularidade das calçadas, da inclinação das ruas, do barulho dos carros, do cheiro das árvores, da luminosidade das praças, é um lugar que vive com muita intensidade nas minhas lembranças. Como me mudei da Curitiba há quase quinze anos, a cidade da minha juventude ficou como que preservada em âmbar na minha memória e foi fácil colocar meus personagens lá.    

6. Sua obra possui uma série de referências a acontecimentos reais e também a pessoas que tiveram papéis importantes no Brasil e na literatura. Além disso, você tece certas críticas ao meio literário. Como foi trabalhar com esses elementos?
Curiosamente, esse é um dos aspectos que mais tem chamado a atenção das pessoas, mas para mim, ao escrever, foi tão natural que nem me dei conta de estar fazendo algo fora do comum. Desde o princípio, com algumas referências muito pontuais a Curitiba, acho que fica claro que se trata de um romance muito marcado no tempo, quase um romance de geração. Pois bem, os homens e mulheres da geração literária dos anos 80 e 90 foram meus personagens secundários, inclusive em suas brigas e picuinhas. 

7. Diogo, agradecemos novamente a disponibilidade. O espaço agora é todo seu. Deixe uma mensagem para os leitores, fale mais sobre a sua obra, formas de contato, locais de venda e etc. 
Uma vez mais, quem agradece sou eu. "Até você saber quem é" é meu primeiro romance e a resposta dos leitores e de sites como o "Desbravador de Mundos" tem sido incrivelmente positiva, gentil e encorajadora. O livro (físico e digital) pode ser encontrado, como diz o clichê, "nas melhores lojas do ramo." Como moro no exterior, tenho me comunicado mais com o mundo pelo Facebook. Quem tiver interesse, pode seguir meu trabalho por lá.


Comentários
16 Comentários

16 comentários:

  1. Olá, Marcos.
    Fui lá ler a resenha de novo porque não me lembrava da história hehe. Achei a entrevista bem legal e parabéns por abrir o espaço para os autores nacionais. Tenho em comum com o autor de não gostar de barulho e muita gente junta hehe. Só fiquei um pouco perdida nas perguntas e respostas que acho que só entendeu melhor quem já leu o livro hehe.

    Blog Prefácio

    ResponderExcluir
  2. Adorei, Marcos!!! Você é praticamente um jornalista do Globo Repórter!! Ou do Fantástico... Ou do Omelete, que por sinal eu prefiro, rsrs.

    Parabéns pros dois. Gosto muito quando o autor coloca os personagens num lugar onde ele andou muito, no caso Curitiba. Isso com certeza passa para a obra.

    Bjks

    Lelê

    ResponderExcluir
  3. Oi, Marcos
    Muitos autores fazem isso, não é? Se inspiram em momentos próprios para escrever. A maioria resulta em uma boa história.
    Gostei da resposta dele sobre sua biografia.
    Ótima postagem.

    ResponderExcluir
  4. Eu não conhecia nem a história nem o autor, mas foi legal conhecer um pouquinho mais sobre ele. E me identifiquei com ele em se inspriar em coisas próprias pra escrever, mas pra mim geralmente é um pouco da minha personalidade, assim, todos os meus personagens tem um pouco de mim. Gostei demais da entrevista.
    Um abraço!

    https://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  5. Adorei a entrevista! Acho que é coisa de escritor preferir livros e cinema à bares né hahaha ainda não conhecia a obra, mas já desejo muito sucesso pro Diogo!

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Oi Marcos,
    Adoro conhecer autores novos.
    Quando já nos simpatizamos por eles em entrevistas, já queremos ler os livros, rs.
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  7. Oi Marcos!

    Não li ainda o livro do autor, mas quando li a resenha achei a premissa muito interessante e ver o autor falando só confirmou isso. Parabéns pela entrevista!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

    ResponderExcluir
  8. Aah q legal conhecer mais sobre o autor, eu li a resenha do livro e achei mto bacana!
    Parabéns pela entrevista!
    Bjs

    ResponderExcluir
  9. Oi, Marcos.
    Parabéns pela entrevista, muito bem elaborada! E parabéns também ao autor, respondeu as perguntas de forma muito clara. Desejo muito sucesso a ele! É muito bom poder conhecer mais desses novos autores e assim também conhecer suas obras. Obrigada. Abraços.

    ResponderExcluir
  10. Marcos
    Primeiro que parabeniza-lo pelo seu trabalho de divulgação de autores nacionais. Você realmente é um desbravador. A Entrevista está ótima é é sempre bem legal conhecer um pouco mais dos autores, principalmente dos nacionais. Já li a resenha do livro do Diogo, e foi interessante saber que ele escreveu o livro como forma de superar seus próprios momentos difíceis. Desejo muito sucesso na carreira dele.
    Abraços,
    Gisela
    Ler para Divertir
    Participe do Sorteio da Coleção Completa de Harry Potter no Instagram do blog

    ResponderExcluir
  11. adorei a entrevista
    isso realmente está ficando repetitivo, mas estou amando as entrevistas está sendo ótimo para conhecer mais autores nacionais! o blog está de parabéns
    não conhecia o autor nem a obra, corri para ler a resenha e fiquei super curiosa, achei bastante interessante o fato dele ter usado a escrita como uma forma de escape!
    parabéns!

    ResponderExcluir
  12. Já tinha ficado bastante curiosa com o livro Até Você Saber Quem é, quando li a resenha. A entrevista com o autor ficou ótima, e me deixou ainda mais curiosa com o livro. É sempre bom ter novos autores nacionais com obras tão interessantes.

    Abraços :)

    ResponderExcluir
  13. Oi, Marcos!!
    Estou gostando muito de conhecer autores novos e principalmente autores nacionais!! Gostei muito da entrevista!
    Beijoss

    ResponderExcluir
  14. Adoro entrevistas com os autores nacionais. É uma forma de incentivar seus trabalhos e ajudar na divulgação.

    ResponderExcluir
  15. Já me identifiquei com o autor logo no início da entrevista, também não gosto de locais lotados e barulhentos, incrível como a literatura serviu para o autor expressar o que sentia. Fiquei mais curiosa para ler o livro de sua autoria.

    ResponderExcluir

© Desbravador de Mundos - Todos os direitos reservados.
Criado por: Marcos de Sousa.
Layout por Fernanda Goulart.
Tecnologia do Blogger.
imagem-logo