16/09/2016

Resenha: Cobra Norato

Título: Cobra Norato
Autor: Raul Bopp
Editora: José Olympio
ISBN: 9788503005289
Ano: 2016
Páginas: 96
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Sinopse:

Cobra Norato, poema genial de Raul Bopp, situa o autor como um dos maiores escritores de nosso país e presença de grande importância no movimento modernista da década de 1920, que tanto influenciou (e influencia até hoje) os caminhos da cultura nacional.
Em "Cobra Norato" (1931) é detectado um retorno ao pré-tempo, ou seja, ao mito. O autor, após uma série de viagens pelo país, em que conhecera diversos costumes e tradições, traz a magia e o misticismo para a sua literatura, buscando encontrar o Brasil primitivo anterior à lógica e ao racionalismo científico.
Resultado de uma pesquisa iniciada para o doutorado em Línguas e Literaturas Ibéricas e Ibero-americanas da Universidade de Palermo, este livro mostra como os autores escolhidos propuseram um relacionamento crítico e consciente com o passado nacional, reivindicando uma literatura capaz de refletir as peculiaridades nacionais dentro de um âmbito artístico de qualidade universal.

Resenha:

Desde o seu lançamento, Cobra Norato é visto como um dos melhores poemas épicos da literatura brasileira. O motivo para tal é o bom trabalho com o verso, o tema intrínseco à nossa cultura e a qualidade das figuras de linguagem utilizadas. Esse conjunto gera mais do que uma boa poesia, mas um trabalho com a cara do brasileiro, algo que era um dos grandes ideais da Semana de Arte Moderna.

Logo no início da obra, acompanhamos o eu lírico se aproximar da serpente e brincar com ela de amarrar uma fita no pescoço. Contudo, o que acontece é um estrangulamento e o eu lírico toma posse do corpo da serpente, podendo caminhar pela florente em busca da filha da rainha Luiza, com quem ele desejava se casar.


Contudo, como em todo poema épico, a jornada não pode ser tão simples. Para conseguir o que deseja, “antes tem que passar por sete portas / Ver sete mulheres brancas de ventres despovoados / guardadas por um jacaré”. Cumprindo todas as provas, Norato poderá, então, alcançar o seu grande objetivo.
“Bocejam árvores sonolentas / Ai que a noite secou. A água do rio se quebrou / Tenho que ir-me embora / Me sumo sem rumo no fundo do mato / onde as velhas árvores grávidas cochilam / De todos os lados me chamam/ – Onde vais Cobra Norato?” (p. 19).
Partindo dessa premissa, Raul cria uma grande ode à nossa cultura. Por ter uma riqueza vocabular e de costumes, objetivando um transporte do leitor através das palavras, ler Cobra Norato tornar-se um verdadeiro mergulhar na selva, sentir na própria pele todas as sensações do réptil. A cada parte da poesia, o leitor é convidado a conhecer um pouco mais sobre a natureza do seu país e da sua cultura.

Para que isso aconteça, Raul Bopp se utiliza de uma série de expressões e palavras regionais, o que pode causar uma certa dificuldade na leitura, contudo, não é nada que um leitor verdadeiramente interessado em desbravar a obra não possa superar. Afinal, são esses termos que ajudam na verossimilhança e na construção tão natural da obra.


O mais interessante é a utilização que Bopp faz do mito original. Apesar de buscar a essência nos contos amazônicos e pincelar toda a obra com a cultura da região, o livro também guarda pontos peculiares, únicos, tornando a leitura uma descoberta agradável. Ou seja, mesmo que o leitor conheça o conto original, poderá se surpreender com a escrita de Bopp e com a construção do enredo.
“Acordo / A lua nasceu com olheiras / O silêncio dói dentro do mato” (p. 32).
Como todo épico clássico, Cobra Norato é construído em versos. Contudo, aqui não temos uma versificação rígida, quase engessada, como encontramos em muitas obras do estilo. Bopp, que acreditava nos ideais da Semana, traz para a obra uma leveza e uma não rigidez nos versos. Ou seja, a qualidade da obra está mais na construção do enredo, no trabalho vocabular e das metáforas do que na construção métrica dos versos. Isso, sem dúvidas, aproxima o livro de um público que tenha menos costume de ler livros clássicos.

A parte física, por sua vez, não fica devendo em nada para a construção da obra. A capa está maravilhosa e reflete muito bem o que encontraremos no livro. A diagramação está muito boa, contando com diversas ilustrações que apresentam as situações vivenciadas por Norato. Para complementar, temos uma revisão excelente.


Em suma, Cobra Norato é mais do que um poema épico ou expressão de um movimento literário, é a personificação da nossa cultura em versos, da nossa cara em palavras. É uma obra que merece ser conferida por sua beleza e amada por sua expressividade. Para quem gosta de uma literatura nacional realmente brasileira – e não daquela imitação de padrões americanos produzidos no Brasil –, esse livro será uma excelente descoberta.
“Noite está bonita / Parece envidraçada” (p. 56).
Outras fotos:






Comentários
22 Comentários

22 comentários:

  1. Oi Marcos, tudo bem?
    Nossa, amei sua resenha!!! Não me canso de dizer, você tinha que ser critico literário, possui um olhar aguçado para a palavra e se expressa através dela muito bem. E dessa vez, foi poético também. Nunca vi um épico ser escrito através de versos, mas pensando bem, é perfeito, pois os feitos dos guerreiros, antigamente, eram imortalizados através de versos cantados. Ele está os imortalizando através de versos escritos, e mais, está falando da nossa cultura. Não vejo a hora de ler!!!Adorei!!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  2. Oi, Marcos!
    Achei bem legal como o autor construiu o poema e, apesar de não ser muito fã do estilo, me bateu a curiosidade em conhecer a obra.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Participe do sorteio de aniversário Balaio de Babados e Postando Trechos
    Participe da promoção 1 Ano de Estilhaçando Livros

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  3. Oi Marco,
    Não conhecia o livro nem o autor, e confesso que não faz meu estilo de leitura, mas adorei a diagramação e resenha

    bjos
    Blog Vanessa Sueroz

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  4. Olá.
    Com certeza uma obra muito interessante e uma leitura inteligente. Não é muito meu estilo de leitura, mas talvez um dia venha a conferir. A capa está muito bonita. Ótima resenha, sempre muito bem elaborada. Abraços.

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  5. Não sei se eu teria paciência pra ler um livro desse, gosto de versos, mas quando são muito longos, acabo ficando perdida em seu sentido. É algo que eu devia melhorar no que eu leio, mas estou começando a sair da minha zona de conforto agora. Achei super legal o fato de o autor explorar o mito como você disse, parece ter sido uma leitura rápida e bastante proveitosa.
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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  6. Oi Marcos, tudo bom? Confesso que eu não leria o livro, não gosto muito de poemas, mas adorei sua resenha. A capa e a diagramação do livro estão lindas *_* Fico feliz que você tenha curtido a leitura e, novamente, adorei sua resenha <3

    Beijos
    https://resenhaatual.blogspot.com.br/

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  7. OIe
    Primeira vez que eu vejo este livro, e seus comentários me deixaram curiosa pela obra. Adorei as ilustrações contida nele.

    Beijos
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

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  8. Oláá! Tudo bem??
    Nossa, não conhecia, mas estou apaixonada pela sua resenha! Esse livro parece ser tão bom que mal consigo manter a normalidade hehehe Acho que será uma ótima leitura, ainda mais que não estou acostumada a ler esse tipo e, mesmo assim, me chamou tanta atenção!
    Beeijo

    https://lecaferouge.blogspot.com.br/

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  9. Que amor ♥ Que coisa mais linda!!!!
    Fiquei apaixonada!! Muito bem feito. Essas ilustrações... Tá tudo ótimo!

    Não conhecia o livro e fiquei encantada. Capa belíssima. Um trabalho de primeira mesmo.

    Bjks

    Lelê

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  10. Oi,

    Amei a resenha e essas fotos lindas <3

    Abraços...

    http://blogmichaelvasconcelos.blogspot.com.br/

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  11. Parece uma obra bem original que envolve o leitor com a sua poesia, mas pra mim acho que seria uma leitura cansativa :(

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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  12. Olá, Marcos.
    Acho que esse livro não é para mim. Eu confesso que já fiquei aqui um pouco perdida com suas palavras na resenha, imagine lendo o livro então hehe

    Blog Prefácio

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  13. Não conhecia o livro e confesso que não estou acostumada a ler livros do tipo, mas achei que pode ser uma leitura muito boa. Gostei muito da resenha!

    http://www.biigthais.com/

    Beijoos ;*

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  14. Oi Marcos!

    Raul Bopp é simplesmente genial! Eu não conhecia essa edição, mas parece que está lindíssima, fiquei com vontade de comprar e ter na minha estante!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  15. Oii Marcos! Eu gostei dmais desse livro, esse gênero me prende mta atenção, com toda ctz vou qrer conferir tudinho!
    Excelente sua dica!
    Bjs!

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  16. marcos!
    eu terminei sua resenha (na verdade foi logo no começo) com a sensação: procurar meu livro de literatura e dá uma lida sobre a semana, pois não lembro de quase nada.
    faz tempo que eu não leio um livro de poesia, mas esse me deixou super curiosa, sem falar na diagramação que é linda
    p.s. amei suas fotos!

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  17. Não gosto de poemas, mesmo os épicos, e sei que não conseguiria ler esse livro, por melhor escrito que ele tenha sido. Gostei bastante da capa e da resenha, mas realmente não é o meu tipo de leitura.

    Abraços :)

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  18. Eu adoro poesia. Não a clássica,mas a que eu denomino,crua. Poesia do boteco, de gente comum. Que traz a linguagem simples e nada metódica.
    Adorei tudo que li e vi acima, os poemas e o jogo de ilustrações, fazendo com que a imaginação flua ainda mais!!!
    Adorei!
    Beijos

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  19. Oi, Marcos!!
    Não conhecia esse livro e nem o autor. Mais infelizmente esse livro não se encaixa nos gêneros que gosto de ler.
    Beijos

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  20. Oi, Marcos
    O que me despertou a curiosidade nesse livro foi o fato de ser trabalhado tão naturalmente. Deve ser gostoso desbravar uma obra tão brasileira, como você mesmo citou. Só não sei se leria no momento.

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  21. Lembro que assim que "tomei",gosto pela leitura,lia muitos poemas. Mas com o passar do tempo deixei de lado esse hábito. Não sei por qual razão!

    Achei os poemas de Raul Bopp inteligentes,porém difíceis.

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  22. Oi Marcos
    Suas resenhas aumentam meu conhecimento literário que é muito restrito. Este não é meu estilo de leitura então não conhecia o livro e seu autor. Achei a Obra linda.
    abraços
    Gisela
    www.lerparadivertir.com

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