17/11/2016

Resenha: Esta terra selvagem

Título: Esta terra selvagem
Autora: Isabel Moustakas
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 8535926895
Ano: 2016
Páginas: 120
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Sinopse:

Depois de presenciar a morte da testemunha ocular de um crime tenebroso, a vida do repórter João nunca mais foi a mesma. A jovem que assistiu à tortura e ao assassinato brutal dos pais, para depois ser abusada de todas as maneiras, deu fim à própria vida diante dele após relatar cada detalhe perturbador do que vivera.
A partir deste terrível episódio, o jornalista irá seguir todas as pistas que possam levá-lo a um possível grupo racista que vem cometendo as piores atrocidades contra imigrantes, negros, judeus, nordestinos, gays e quaisquer pessoas que eles considerem impuras. Mas a única pista que ele tem são os cadarços verde e amarelo que eles usam nos coturnos.

Resenha:

Desde o lançamento deste livro fiquei curiosa demais pela leitura porque é nacional e o tema é bem diferente, assemelha-se bastante a nossa realidade e um possível futuro. Quando fechei o livro, a história ainda paira na minha cabeça. Quer saber o que achei? Confira abaixo.

Quando o jornalista João vai entrevistar uma das primeiras vítimas sobreviventes do grupo racista e homofóbico, não imaginava que seria tão traumático e difícil exercer sua função, pois cada detalhe perturbador e terrível que a jovem relatava sobre tudo o que passou nas mãos desse grupo, como foi assistir a morte de sua família, sobreviver ao cativeiro e as atrocidades que sofreu e finalmente como e porque a soltaram é estarrecedor. Para piorar, após esse relato, a adolescente comete suicídio em frente do jornalista. João acaba, por tal motivo, entrando em uma missão perigosa e difícil: encontrar esse grupo racista.
“Um dos bombeiros falara comigo sobre o cheiro de carne queimada. “A pior coisa que existe. Você não esquece nunca mais, cara. Nunca mais”. Cheiro de carne queimada. Carne humana. Ou a visão de uma garota de dezesseis anos, indescritivelmente  brutalizada [...]. Você não esquece nunca mais, cara.Nunca mais”.

O suicídio da jovem parece ter desencadeado outras barbaridades e ataques a pessoas como gays, judeus, nordestinos e estrangeiros; a intolerância e ódio ficou maior e a desordem estava instaurada em São Paulo. A polícia não tinha pistas de onde vinha esse grupo e nem sobre o líder, além disso tinham que dar conta das inúmeras ocorrências que recebiam todos os dias. Aliás, essa é uma falha que observamos, infelizmente, no nosso país; cada dia que chegamos em casa sã e salva é uma conquista. As notícias que encontramos nos jornais, redes sociais, nas ruas e outros meios chegam a ser, em sua maioria, assustadoras.

João consegue encontrar pistas que levam ao possível líder do grupo, mas, infelizmente, ele não pode ser preso ou capturado por não haver provas concretas; a polícia mantém a investigação, mas, de mãos atadas, acaba sendo alvo de um propósito terrível que esses homens de coturnos planejam. Além disso, a violência continua e muitos homens e mulheres são mortos ou espancados. Não há como ler essa desumanidade e não lembrar do que lemos nos jornais ou assistimos na TV. Há como não se sentir infeliz e com medo de alguém próximo sofrer essas truculências, ou até nós mesmo?
“[...] A hora está chegando, a hora está chegando e a gente vai queimar tudo que é índio boliviano e paraíba e crioulo e viado, não vai sobrar um e depois disse que eu era, tipo, um aviso, sabe?”

A justificativa do grupo era que estavam purificando o mundo. Os impuros, segundo eles, deveriam morrer e não atrapalhar ou sujar o nome do país. Sentiam-se patriotas e estavam apenas cumprindo seu dever e faziam isso em nome do bem-estar do Brasil, começando por São Paulo; aliás, estavam apenas iniciando um grande propósito. O líder ainda achava graça do que fazia, tinha enorme prazer e ainda usava o sarcasmo de uma forma repulsiva. Não foi difícil imaginar como esse homem era.

As pistas e rastros que o jornalista encontrava o aproximava ainda mais do perigo e de ser alvo do grupo. Eu ficava com o coração acelerado nessas horas. Quando ele presenciava novas brutalidades e agressões, não conseguia ter dificuldade nenhuma de imaginar as cenas de crueldades, e cada detalhe que ele observava eu também conseguia ver, parecia tão real que, se não soubesse que era fictício, diria com facilidade que algumas dessas cenas de horror eram a nossa realidade. Algumas outras lembraram-me alguns episódios que assisti da série Hannibal e filmes de suspense/terror.

O enredo tem um ritmo muito frenético e acelerado, não explora psicologicamente sobre a vida dos personagens, é mais focado no suspense e em como são as ações do grupo racista e homofóbicos do que na forma hedionda que o ser humano é capaz de fazer as coisas e no cenário de violência que presenciamos diariamente. Até gostaria que tivesse até mais páginas, explorando mais os personagens e sobre esse grupo, como começaram e como conseguiram escapar ilesos, se tinham outras pessoas de poder ajudando-os. São inúmeras questões que ficam a critério do leitor imaginar e/ou adivinhar.

Apesar de o livro ter poucas páginas, é carregado de uma intensidade absurda e que deixava cada página mais eletrizante, tanto que só consegui largar a história após finalizá-la. Em poucas horas você consegue terminar, é aquele tipo de livro que lemos com tanta voracidade e terminamos com as últimas cenas ainda na cabeça, pensando nas possibilidades que poderiam ter sido diferentes. A única diferença entre as atrocidades e violências da nossa realidade e a do livro é que naquela lemos e imaginamos com detalhes macabros as cenas, já nesta, só ouvimos falar ou vemos as notícias e nada mais, somos poupados das minúcias.

A autora vai deixando pistas para o leitor desconfiar de pessoas que o personagem nem imaginava, e o jogo que fez para fazer o leitor desacreditar na verdade foi uma bela sacada. A autora prenunciava o final para o leitor e já o preparava com extrema tensão e revelações. Gosto muito de livros que conseguem fazer essa proeza, deixa a leitura mais intrigante e, às vezes, revoltante. Quem nunca xingou o personagem traidor ou às cenas surpreendentes?

Outra questão curiosa é que não sabemos a identidade da autora, pois o nome é um pseudônimo. Mesmo com as informações na orelha do livro, fica esse mistério, sabemos apenas que é brasileira e nada mais. Se isso é uma jogada de marketing, eu não sei, mas que estou curiosa, isso posso afirmar com certeza, quem sabe eu consiga conhecer a autora um dia?

A Companhia das Letras, como sempre, fez um belo trabalho, a capa do Christiano Menezes está incrível e reflete a ideia do livro. A revisão da Marina Nogueira e Valquíria Della Pozza ficaram excelente e a diagramação ficou confortável e adequada ao formato do livro.

Se você gosta de histórias rápidas e que faça uma reflexão sobre a nossa realidade, não pode perder a chance de conferir Esta Terra Selvagem


Comentários
16 Comentários

16 comentários:

  1. O melhor de tudo é ler uma resenha assim e saber que tudo isso é nosso. Só nosso.
    A literatura nacional precisa ser mais explorada, mais divulgada.
    Eu não conhecia este livro, mas já quero para ontem. Tem tudo que gosto numa história, suspense, agonia...
    E mesmo sendo um livrinho tão pequeno, tem realmente uma carga emocional muito grande!!!
    Beijo

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    1. Olá <3
      SIIIM!!! Mais um grande livro nacional para nos trazer orgulho da nossa literatura. Gostei bastante da história e gostaria de um dia conhecer a autora.

      Beijos

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  2. Oi Thais!

    Eu confesso que amei a capa! Achei bem tenebrosa e me deixou muito curiosa para conhecer a história.
    Parabéns pela resenha. Nossos autores estão arrasando nas publicações neh? Fico feliz de mais um autor nacional conseguir publicar um bom livro por uma editora tão boa qto a Companhia!

    Bjo bjo^^

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  3. Nossa, Thaís, esse livro é envolto em todo quanto é mistério, desde os personagens até a autora!
    Eu fiquei curiosa pra saber como o/a autor(a) conseguiu falar de tanto em apenas 120 páginas. Achei a história bem densa, do tipo que nos toca e incomoda durante a leitura.

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  4. A literatura brasileira vem se destacando cada vez mais, e esse é um livro que com certeza irei ler, ah e sem contar a capa, que ficou incrível! Fiquei bem curiosa quanto a história(que infelizmente, nem é tão história assim)!

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  5. Oi,
    Gostei da resenha, não conhecia o livro ainda, amo ler livros nacionais e já irei colocar esse na minha lista , achei interessante a pegada do livro, e ele de certa forma algumas coisas que são reais no nosso dia a dia, como a ineficiência da policia.
    Beijos *-*

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  6. Oi Thaís, fiquei curiosa para saber quem é a autora por trás disso tudo. Gostei muito da trama e por se tratar de uma obra nacional, estou mais ansiosa ainda para ler.
    Beijos
    Quanto Mais Livros Melhor

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  7. Gostei muito do suspense, fiquei bem curiosa para descobrir quem está por traz dessa onda de ódio, que como você disse não é tão irreal assim. Essa da autora usar um pseudônimo deixa tudo ainda mais interessante. Gostei muito da capa. Ótima dica e resenha.
    Abraço!
    A Arte de Escrever

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  8. Fico ão feliz em ver nosso mercado crescendo! Já anotei essa dica

    Beijos!

    EsmaltadasdaPatyDomingues

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  9. Thaís!
    O líder desse tal grupo me lembrou Hitler que queria purificar a raça e o mundo.
    Deve ser realmente um livro bem reflexivo, já que não admito em pleno século XXI ainda existir qualquer tipo de preconceito.
    “É melhor saber coisas inúteis do que não saber nada.” (Sêneca)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de NOVEMBRO com 3 livros + BRINDES e 3 ganhadores, participem!

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  10. Oii, adoro leitura nacional, não conhecia esta, adorei...Vou deixar anotado!
    Bjs

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  11. Oi.
    Que bom saber que um livro tão interessante e cheio de mistérios, é uma obra nacional! Espero ter a oportunidade de ler. Dica anotada. Resenha perfeita!
    Beijos.

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  12. Nossa, percebe-se que essa história teve um tema bastante forte. Parece ser bem dramática, além de abordar assuntos importantes na sociedade atual. A capa é muito diferente e intensa. Gostei da sua resenha.
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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  13. Ultimamente tenho lido só nacionais, então este livro já entrou para a lista, óbvio!
    Só com a sua resenha já imagino como deve ser, e fiquei muito curiosa para lê-lo.
    Lembrei de que senti alguma coisa parecida quando li "Lobo de Rua" da Jana P. Bianchi.
    Resenha maravilhosa, parabéns!


    Minha Fuga da Realidade 💙💜

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  14. Thais
    Já conheço o livro e todas as resenhas que li são como a sua, só elogios, mas não sabia do detalhe sobre a identidade da autora. Acho que o que se passa nesse livro é uma realidade que estamos presenciando cada dia mais, a intolerância ao que é diferente. E isso é um reflexo de uma geração que se relaciona pelas redes sociais e não por interação presencial. Tenho medo de onde vamos parar.
    abraços
    Gisela
    www.lerparadivertir.com

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  15. Eitaaaa, parece ser um livro forte e que nos faz refletir e nos assustar muito.
    Lidando com tanta maldade humana , tanto preconceito, ao mesmo tempo que é bom refletirmos mais sobre isso, também nos assusta tanta intolerância e preconceito.
    Abs

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