12/12/2016

Resenha: Nazistas entre nós

Título: Nazistas entre nós
Autor: Marcos Guterman
Editora: Contexto
ISBN: 9788572449731
Ano: 2016
Páginas: 192
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Sinopse:

Os nazistas, responsáveis pelo Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial, foram exemplarmente punidos após a derrota alemã, certo? Não foi bem assim. Muitos desses carrascos desfrutaram o resto da vida em liberdade, em vários cantos do planeta, como se fossem parte da mesma sociedade civilizada que eles tanto se esforçaram em destruir. Eram vistos como vizinhos pacatos, cidadãos de bem. E isso só foi possível porque, aos olhos de muita gente, o “passado” deveria ficar no “passado”. É essa história de impunidade que o historiador e jornalista Marcos Guterman conta.

Resenha:

Quando se trata de um livro acadêmico ou com viés histórico, vale sempre a pena começar ressaltando a experiência de quem o escreveu. Marcos Guterman, brasileiro, é formado em história pela PUC e é doutor em história pela USP, além de especialista em nazismo e antissemitismo. Ademais, é jornalista profissional, com passagens longas no O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. Um currículo de peso que gera também um livro de peso.

Também devido à formação tão boa do autor, Nazistas entre nós se mostrou um livro rico, inteligente, bem escrito, que prende quem lê. É um trabalho que pega o melhor da academia, que é o conteúdo de qualidade, e o melhor do jornalismo: a escrita mais leve e informativa. O autor sabe ser objetivo, sem perder o ritmo e o foco: trazer o máximo de conhecimento para o leitor. A obra se torna uma aula de história e sociedade, mas sem ser enfadonho, o que é um grande atrativo para leitores que não estão acostumados com a leitura de livros acadêmicos.


Contudo, apesar do bom trabalho, Nazistas entre nós é uma obra que dói. Não por falta de qualidade, é claro, mas pela realidade dolorosa que transmite. É chocante e beira ao trágico como pessoas que mataram centenas, milhares, continuaram impunes, soltas, sem terem enfrentado a justiça. Choca ainda mais terem sido recebidas por países desenvolvidas e abrigadas como “heróis”. Sim, nessa obra estamos falando dos nazistas, os de Hitler. Eles mesmos, assassinos, genocidas, ficaram livres, inclusive no nosso país.
“Assim como Soobzokov, milharesde cúmplices de Hitler puderam se instalar nos Estados Unidos depois da guerra e quase todos eles escaparam de prestar contas à Justiça – e ainda trabalharam não apenas para o serviço de inteligência, mas também para para o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, então empenhados em caçar comunistas país afora, sob a chefia de J. Edgar Hoover” (p. 18).
Guterman nos apresenta trajetórias que de tão surreais parecem fantasia. Tivemos importantes nazistas do regime alemão que trabalharam, posteriormente, para o sistema de inteligência norte-americano. Pior, teve quem trabalhasse em importantes cargos da ONU. A experiência com tortura dos oficiais também foram aproveitas, seja pelos americanos que queriam caçar comunistas, seja pelas ditaduras na América no Sul. Ou seja, fica claro que, na concepção de alguns, matar é errado, a não ser que seja ao seu favor.

O autor também apresenta casos como o de Stangl, comandante assumido e confesso de dois campos de extermínio nazistas, os de Sobibor e Treblinka. Ele, apesar de assumir participação no regime alemão, se considerava inocente. Paul Stangl chega a dizer que, mesmo sendo comandante do campo de extermínio, nada teve a ver com o que acontecia lá.


Outro caso que chama a atenção na obra é o de Klaus Barbie, também conhecido como “o Açougueiro de Lyon”. Sua fama era de arrancar informações com facilidade, usar todo seu sadismo para criar novas técnicas de tortura e de interrogatório. Com o fim do regime nazista, Barbie ficou desempregado e livre no mercado. Em abril de 1947, acabou contratado pelos serviços de inteligência americanos. Um feliz fim para quem tanto matou inocentes.
“Para os americanos, blindar criminosos nazistas valia a pena, se isso representasse vantagem contra os comunistas” (p. 20).
Além do bom conteúdo histórico e fatos que nos fazem duvidar da tal racionalidade dos seres humanos, a obra também chama a atenção pela parte física. A capa é misteriosa e faz sentido dentro do conjunto da obra. A diagramação é simples, típica de livro acadêmico, mas extremamente confortável – algo raro em livros assim. A revisão está perfeita e a obra conta ainda com uma boa bibliografia, ajudando quem quer se aprofundar ainda mais no assunto.

Em suma, Nazistas entre nós é um livro que apesar de chocar, merece ser conferido. Se ignorar o passado não faz com que ele suma, devemos conhecê-lo para evitar que se repita. Marcos Guterman faz exatamente isso: nos faz refletir sobre o que passou, nos faz abrir os olhos, o que, sem dúvidas, é essencial para uma sociedade que quer se tornar melhor.



Comentários
15 Comentários

15 comentários:

  1. Aiiii, que ódio, Marcos.
    Só de ler sua resenha já fiquei mal. Mas a culpa não é sua, claro. Você não tem ideia de como as pessoas me cansam às vezes. Me cansam não, me decepcionam. Às vezes eu não consigo acreditar que nós, humanos, seres "pensantes" fazemos coisas tão absurdas.
    Eu ainda não desisti da humanidade (pareco um alien falando, mas enfim,... hahaha), claro que não. É por isso que trabalho no que trabalho. Mas nesses momentos, eu fico pensando se ainda temos chance. Eu acho que sim, mas olha, tem vezes que é difícil.
    Eu já não curto os EUA, acho que eles pensam serem os donos do mundo e que estão acima de tudo. E esse livro só parece mostrar isso ainda mais.
    Esse é um livro que eu leria, com certeza. Mas não sei se no momento. Estou sensível demais para essas coisas e já fiquei chateada só em conhecer o assunto desse livro.
    Um beijão
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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  2. Sou fascinada por livros assim. Que vem para mostrar essa parte tenebrosa da nossa história, que precisa sim, ser lembrada e porque não, vivida na pele de novo e de novo?
    É nossa história, é nosso passado, faz parte de cada um de nós.
    E ver um livro assim, com bases sólidas, é algo prazeroso demais.
    E tem muitos destes monstros que viveram como heróis sim, sem direito à nenhum julgamento decente e tirando o peso de tantas mortes dos seus ombros.
    Se puder, lerei com certeza!!
    Beijo

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  3. Oi Marcos, esse tema geralmente chama atenção né. Eu não estou acostumada a ler livros assim, mas estou moldando meu gosto literário e acredito que ler essa obra irá contribuir nesse processo.
    Beijos
    Quanto Mais Livros Melhor

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  4. Oi Marcos!

    Não curto muito livros acadêmicos, mas gosto de ler sobre os nazistas. Para este livro, eu abriria uma exceção, já que além de ser muito informativo, tbm foi escrito por um brasileiro.

    Parabéns pela resenha. Gostei muito de conhecer o livro e vou adicioná-lo na minha lista de desejados!

    Bjo bjo^^

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  5. Oi, Marcos!
    Geralmente livros nesse estilo não fazem muito meu gosto, mas eu abriria uma exceção a esse por conta do assunto abordado.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Promoção Natal Literário
    Participe do Sorteio de Fim de Ano
    Participe da promoção três anos de Um Oceano de Histórias

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  6. Oi, Marcos!!
    Não tenho muito costume de ler livros sobre os nazistas, mas achei muito interessante esse livro!! Sem dúvida é um tema forte e que muitas pessoas não tinha ideia o que aconteceu com todos carrascos!!
    Beijoss

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  7. Literalmente CHO-CA-DA!

    Que sofrimento. Será que eu conseguiria ler?? Vai pra lista. Lerei sim.

    Bjksssssss

    Lelê

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  8. Oi, Marcos!
    Gosto de livros com conteúdo históricos, eles sempre nos fazem refletir. Esse livro com certeza vale a pena conferir!

    Beijos,
    Eli - Leitura Entre amigas
    http://www.leituraentreamigas.com.br/

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  9. Marcos!
    Os assassinos comandados por Hitler acham que estavam certos e por esse motivo eles não acreditam ter cometido nenhum crime.
    E fiquei chocada em saber que alguns foram abrigados e ainda tiveram altos cargos em diversas agências pelo mundo.
    É um livro muito rico e bem profissional e gostaria de ler.
    “O verdadeiro sentido do Natal não está nos presentes e nem no papai noel, mas sim no nascimento de Jesus Cristo, que veio ao mundo para nos libertar do pecado e ser o nosso único salvador!” (Andréia Godoi)
    Boas Festas!
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de DEZEMBRO ESPECIAL livros + BRINDES e 4 ganhadores, participem!

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  10. Oi.
    Apesar de ser um tema forte, triste e impactante, eu goste de ler e saber mais sobre tudo que aconteceu. Faz a gente refletir e dar a valor a vida e a liberdade que temos!
    Espero ter a oportunidade de ler.
    Obrigada pela dica, ótima resenha.
    Abraços.

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  11. Oi Marcos!
    Não conhecia o livro ainda, mas não leria. Parece ser o tipo de livro que só vai me deixar com raiva - não do livro, mas de tudo que aconteceu na história.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  12. Olá!
    Mesmo que soe estranho gosto de ler livros que falem sobre a segunda guerra e saber que a punição que muitos mereciam nunca chegou é triste demais.
    Ainda não li esse livro, na verdade não conhecia, mas vou atrás dele, agradeço a dica e resenha!
    🎄 Conhecendo seu blog e já seguindo pra não perder suas novidades!
    Quando puder dá uma olhada no meu cantinho! 🎄
    Blog A primeira Casa

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  13. Sua resenha está muito boa, mas lendo um pouco mais sobre a história deste livro na resenha e sinopse percebi que o mesmo não faz muito meu estilo de leituras.

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  14. Oi Marcos
    Os livros da editora Contexto são de qualidade e acredito que este é mais um como você afirma. Também acho muito interessante o Trabalho de pesquisa que o autor fez para escrever o livro. O tema deve realmente chocar pois todos estes nazistas deveriam ter sido julgados e presos e não acolhidos em outros países.
    abraços
    Gisela
    www.lerparadivertir.com

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  15. Amei a frase "matar é errado, a não ser que seja a seu favor"
    De fato, muitas pessoas só querem passar uma imagem que acaba mudando quando há oportunidade.
    Ultimamente tenho me interessado muito por assuntos relacionados a SGM e com certeza gostaria de ter essa obra em meu acervo. O fato do autor ser especialista em Nazismo só me deixou mais interessada

    bjs

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