23/05/2016

Resenha: As Reputações

Título: As Reputações
Autor: Juan Gabriel Vásquez
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 9788528618631
Ano: 
2016
Páginas: 
140
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Sinopse:

Javier Mallarino é uma lenda viva, o caricaturista político mais influente do país. Os políticos o temem e o governo lhe presta homenagens. Aos sessenta e cinco anos, depois de quatro décadas de uma carreira brilhante, ele pode dizer que tem o país aos seus pés. Mas tudo isso mudará quando receber a visita inesperada de uma mulher. Após retornar com ela à lembrança de uma noite já remota, Mallarino se verá obrigado a reavaliar toda a sua vida e questionar sua posição neste mundo. No exigente gênero do romance curto, que produziu tantas obras-primas na tradição latino-americana, Vásquez nos presenteia com sua obra mais íntima: uma intensa reflexão sobre a debilidade dos julgamentos públicos e privados, sobre os encontros irreversíveis que alteram para sempre aquilo que acreditamos definitivo em nós mesmos.

Resenha:

Desbravar As Reputações foi um tiro no escuro para mim. Desconhecia o autor por completo, mas resolvi ler a obra por causa do tema abordado, da capa, que me pareceu bem expressiva e representativa, e da opinião de Mario Vargas Llosa. Após terminar a leitura da obra, a certeza é: preciso ler outros títulos de Vásquez.

A obra começa com uma possível homenagem a Mallarino. Ele é um cartunista famoso, o maior da Colômbia. Durante muitos anos, ele fez presença na vida política nacional, seja destruindo reputações de políticos ou denunciando a situação precária do povo. Depois de tantos anos modificando a opinião pública, o governo quer homenageá-lo.


Por fim, após alguma reflexão, o cartunista cede e resolve receber a homenagem oferecida. Contudo, este ato irá gerar uma série de conflitos internos, na esfera sentimental e familiar, entre seus amigos e também com sua consciência. No evento, alguns acontecimentos tornam-se o estopim do desenterro de memórias. A partir destas, o livro é construído.
“Suas caricaturas políticas tinham-no transformado no que era Rendón no início da década de 1930: uma autoridade moral para metade do país, o inimigo público numero um para a outra metade, e para todos um homem capaz de causar a revogação de uma lei, inverter a sentença de um magistrado, derrubar um prefeito ou ameaçar gravemente a estabilidade de um ministério, e isso com as únicas armas do papel e do nanquim” (p. 14).
Através de Mallarino, Vásquez toca em uma série de assuntos densos e complexos. O primeiro ponto e o mais evidente é o papel da imprensa dentro de uma sociedade. Percebe-se, sem qualquer dificuldade, como uma notícia ou uma caricatura pode destruir a vida de uma pessoa ou de um grupo. Quando temos a vinculação de algo em uma fonte de notícias, há, por trás, muito mais do que apenas um fato sendo exposto: há um jogo político-ideológico que, muitas vezes, não nos damos conta. A imprensa passa a ter um poder tão assustador que gera a seguinte reflexão: até onde ela pode ou deve ir?

Além disso, Juan Gabriel trabalha muito bem a questão da memória coletiva. Sabe aquela história de que o povo não tem memória? Pois bem, é verdade. No Brasil temos inúmeros exemplos dessa desmemoriação coletiva, principalmente no ramo político. Isso é abordado com perfeição na obra. O que acontece hoje, o povo esquece na semana seguinte. Há sempre um novo fato a ser pensado, um novo escândalo a ser revelado. Contudo, esse processo de esquecimento histórico não deve e não pode ser natural.


Contudo, Mallarino também sofre com essa falta de memória coletiva, mesmo que em menor nível. Quando se dá conta disso, a culpa permeia a sua mente. Na verdade, no protagonista há uma falha memória coletiva e individual. Isso, juntamente com sua vida amorosa e familiar altamente dilacerada, faz com que acompanhemos de maneira muito interessante o lado psicológico do protagonista.
“(...) Estamos vivendo tempos desorientados. Nossos líderes não estão liderando nada, e menos ainda nos contando o que está acontecendo. Aí entro eu. Conto às pessoas o que acontece. O importante em nossa sociedade não é o que acontece, mas quem conta o que acontece. Vamos deixar que somente os políticos nos contem? Seria um suicídio, um suicídio nacional” (p. 48).
Outro ponto bastante interessante da obra é a forma de seu início e do fim. O livro começa com um fato aparentemente aleatório, uma homenagem que um cartunista recebe do governo. Da mesma forma, termina de maneira quase abrupta, quase que inesperada. Há, claramente, um fluxo temporal do antes e do depois. As Reputações é um recorte. O objetivo é nos fazer pensar, não acompanhar um romance fechado.

Além do excelente enredo e das mais diversas reflexões geradas, o livro conta com uma excelente parte física. A capa é expressiva e profunda, já apresentando indícios de alguns dos pontos que serão abordados na obra. A diagramação, por sua vez, é bem simples, mas eficaz, gerando uma leitura confortável. A tradução e a revisão estão perfeitas.


Desta maneira, resta-me indicar a obra. Se você procura um livro profundo, que gere reflexão e aborde assuntos complexos que estão cotidianamente presentes na nossa sociedade, essa obra é mais do que indicada para você.
“O esquecimento era a única coisa democrática na Colômbia: abrangia todos, os bons e os maus, os assassinos e os heróis, como a neve no conto do Joyce, caindo sobre todos por igual” (p. 112).


Comentários
22 Comentários

22 comentários:

  1. Oi Marcos!

    Como vc sabe, é dificil eu conseguir ler um livro tão complexo quanto este. Não que eu não goste, tenho muita vontade de desbravar mais esse gênero, mas creio que, por eu não estar acostumada, precisaria lê-lo devagar, apreciando a leitura. Infelizmente, tempo me falta e alguns títulos vão ficando para trás.

    Mas, gostei da sua resenha, tbm não conhecia o autor e gostei muito do enredo presente no volume. Espero ter a oportunidade de lê-lo um dia!

    Bjo bjo^^

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  2. Amei a resenha, ainda não li nada do autor mas gosto de livros mais complexos, o que é o caso deste, gosto de livros com reflexões, que nos fazem pensar em certas assuntos, e gostei do modo de inicio e fim do livro, bem interessante a maneira como o autor conduziu os fatos, amei a indicação

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  3. Adoreei a sinopse desse livro!
    A resenha tbm me agradou mto ... Me fez ter uma outra idéia em relação ao livro, a parte que fla da falta e memória das pessoas eh bem bacana, vivemos isso no país msm em relação ao nosso atual governo ...
    Gostei bastante!
    Bjs!

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  4. Achei bem punk!!
    E profundo. Sei lá.
    Sei que vou curtir, mas não agora. Mas quando eu quiser algo assim, com certeza meu tiro não será no escuro como o seu :)

    Bjkssssssss

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  5. Oi Marcos, tudo bem?
    Confesso que esse não é um livro que tenha me chamado tanto assim a atenção :P
    Realmente gosto dos temas abordados, essas questão da mídia e tudo o mais que acaba mudando os conceitos, valores e crenças das pessoas. Que acaba criando deuses e demônios - que quase nunca o são realmente. E sobre como as pessoas esquecem logo do que aconteceu. E a mídia é ótima em fazer isso. Em levantar outra questão quando deveríamos discutir x.
    Mas sei lá, por algum motivo o livro não me atraiu :P
    Mas quem sabe em um futuro não é mesmo? Afinal como eu disse, o tema me interessa.
    Beijos
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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  6. Oi Marcos, tudo bom?
    Confesso que não sou muito fã desse tipo de livro, prefiro aqueles mais fáceis de ler, então não sei se leria esse. Apesar de não me interessar pelo livro, sua resenha ficou ótima <3 Quem sabe futuramente eu não dê uma chance a leitura? ^^

    Beijos
    http://resenhaatual.blogspot.com.br/

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  7. Olá, Gostei da resenha e pela honestidade ao dizer que não cohecia o autor. acho legal pegar livros que voce não foi bombardeado de infirmaçoes antes. dá pra ter umas surpresas legais

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  8. Oi Marcos!

    Eu acho que a gente sempre confiar na opinião do Vargas Llosa rsrsrs Parece ser um livro bem denso e é bom variar um pouco e ler algo que nos faz questionar temas importantes!


    Como sempre adorei as fotos

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  9. Olá, Marcos.
    E eu achei essa capa bem interessante e o livro num primeiro momento não me interessou. Mas lendo a sua resenha, fiquei querendo ler ele, mesmo preferindo outro tipo de leitura. Infelizmente isso da desmemoriação acontece muito aqui no Brasil e sobre o poder da Imprensa vide a rede famosa de tv que o que ela diz é lei para o povo.

    Blog Prefácio

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  10. A sinopse não me animou mas sua resenha, sim. Gosto do tema política e apesar de ser um assunto denso com certeza não me cansaria ao ler.

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  11. Oi, Marcos, tudo bem?

    A história parece ser muito densa e inteligente. Os temas abordados são bem atuais, né? Como a influência da imprensa e a memória coletiva que, como você bem pontuou, o brasileiro não possui. Mas não senti muito interesse assim em um primeiro momento. Sua resenha ficou ótima como já é de praxe.

    Beijo
    - Tamires
    Blog Meu Epílogo | Instagram | Facebook

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  12. Eu achei o livro bem complexo e crítico. Não esperava que fosse tratar de alguém importante, ate notar a sua resenha.
    Uma pena quando você expõe sobre a memoria curta do povo brasileiro, infelizmente é o que acontece mesmo na contemporaneidade. Esse sim é um livro bastante inteligente!

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  13. Oi Marcos,
    Não conhecia o autor, nem está obra.
    Achei muito interessante a abordagem de temas como memória (ou desmemória) coletiva e sobre o papel da mídia.
    Sinceramente, o último parágrafo da resenha me convenceu a dar uma chance ao livro. Dica anotada.
    Abraço,
    Alê
    www.alemdacontracapa.blogspot.com

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  14. Oi! A capa me chamou bastante a atenção, achei diferente, bonita. Já a sinopse, não me agradou muito, no primeiro momento. Mas sua resenha esclarece melhor o rumo da história, sua complexidade e seriedade. Não é meu tipo de leitura, mas creio que devemos estar com a mente aberta para todos os tipos de livros e suas respectivas mensagens. Se houver oportunidade, gostaria de conhecer melhor esse livro. Obrigada. Abraços.

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  15. Oi Marcos, tudo bem contigo ???
    Lembro de que na primeira vez que me deparei com esse livro, o que mais chamou a minha atenção foi a capa. Simplesmente amei a capa dessa obra. Achei ela adorável, muito bem pensada e montada, adorei o detalhe na ponta do lápis, é com certeza uma daquelas capas que fica nos fazendo pensar e pensar sobre o que trataria a obra.
    Gostei de saber que a história se passa na Colômbia, acredito que nunca li nenhum livro de lá ou que se passasse no país. Também gostei de saber que a história é como um recorte, na imensidão de livros com um começo e fim específicos é bom encontrar algo que se destaque por ser um tanto quanto diferente.
    Se tiver a oportunidade com toda a certeza lerei esse livro. Me interessei muitíssimo por ele !!!

    Beijinhos
    Hear the Bells

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  16. Oi
    para você foi uma leitura que valeu a pena pelo que li, a impressa e o cartunista como falou no poste tem o poder de influenciar e isso acaba destruindo a vida de muitos, eu acho que não conseguiria me render a uma leitura complexa como essa, mas parece ser boa.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

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  17. Marcos
    Quando vi a editora do livro já sabia que era um livro mais denso. Sabemos sim a importância da imprensa e agora, onde todos fazemos quase parte dela, eu, você, e todo mundo que a todo instante está divulgando ou comentando algo que será visto por várias pessoas, também somos responsáveis pelo que divulgamos. Apesar da desmemoriação coletiva, um pouco devido a tantas informações geradas por segundo, a responsabilidade sobre o que dizemos ainda é grande, seja em meio físico como virtual.
    Abraços,
    Gisela
    Ler para Divertir
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    livro a sua escolha.

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  18. Oi, Marcos
    Realmente o esquecimento de fatos é uma característica forte no Brasil, infelizmente. Gostaria de ver como o autor trabalhou essas questões cotidianas, pelo jeito muito bem.
    Ainda pretendo ler esse livro um dia. Gostei muito de ver sua opinião. Ótima resenha.

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  19. Oi, Marcos!
    Essa capa realmente representa muita coisa e a premissa do livro é bastante interessante. O esquecimento é realmente um problema que temos, o que como você bem disse não pode e não deve ser natural mas com os bombardeio de notícias que recebemos acabamos esquecendo muitos fatos e histórias. Parece ser um bom livro. Não conhecia o autor.

    Beijos,

    www.liliterraio.com

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  20. Oi!
    Ainda não conhecia esse livro mas gostei muito, achei uma livro diferente do que geralmente leio, mas a capa logo chama a atenção do leitor e achei bem interessante os temas que o autor aborda ao logo do livro principalmente sobre o povo não tem memória que infelizmente é uma triste realidade, esse parece ser o tipo de livro que apos a leitura acaba fazendo o leitor refletir e se tiver oportunidade quero muito ler !!

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  21. Gostei do tema levantado pelo autor, além de ser uma coisa bem comum aqui em nosso país, sempre há um repercussão sobre um fato, até que outro fato surja e aquele anterior caia no esquecimento. Gostei muito da resenha, é um livro que nos faz pensar, refletir sobre atitudes. Ótima dica!
    Abraço!
    A Arte de Escrever

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  22. Conhecia o autor só de nome, e pareceu-me ser uma obra bem arquitetada, com uma grande parte voltada para os problemas sociais, e se envolve política já me atraia.
    Anotado aqui.
    bjss

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