26/08/2016

Resenha: O Peso da Gravata

Título: O Peso da Gravata
Autor: Menalton Braff
Editora: Primavera Editorial
ISBN: 9788555780080
Ano: 2016
Páginas: 176
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Sinopse:

Esta coletânea de contos originais do autor Menalton Braff traz diversos universos, a partir de diferentes pontos de vista. Mergulha-se no realismo fantástico, com histórias como a de um sobrado degradado pelo tempo, e a de um personagem morto que caminha em direção ao seu próprio túmulo. Alguns contos permeiam, ainda, a cruel realidade da rotina, do dia a dia, da morte e da vida. O leitor é convidado, ao final do livro, com o conto Jardim Europa, a entrar no mundo de um condomínio prestes a ser invadido.

Resenha:

Até ler essa obra, desconhecia por completo Menalton Braff. Aliás, só dei uma chance para seu trabalho porque o autor foi vencedor do Prêmio Jabuti, o que é um excelente feito. Ao terminar a obra, entendi o motivo das indicações e passei a ter apreço pelo trabalho do escritor. Afinal, transmitir intensidade e profundidade em um conto, que é uma narrativa bem mais curta, é tarefa árdua. Felizmente, Braff domina essa arte.

Devido à quantidade de contos da obra, torna-se impossível que se fale, detalhadamente, de cada um dos textos. Isso tornaria a resenha enfadonha e tiraria o sabor do descobrimento por parte do leitor. Então, deter-me-ei nos dois primeiros trabalhos, sendo o primeiro deles o que dá nome ao livro.


Em O Peso da Gravata, conhecemos um homem que se sente submergido pelo peso das suas responsabilidades e deveres, que pode ser representado perfeitamente pela sua gravata. Em um certo dia, a opressão das obrigações sociais é tamanha que ele resolve jogar tudo para o ar. O peso é desfeito e o espírito humano é liberto. O interessante e surpreendente é a forma que o protagonista faz isso.
“As três notas curtas e uma longa, da Quinta: torpedo. Gonçalo segura o volante com a mão esquerda, liberando a direita para ver que porra de mensagem é esta agora: não esquecer a recepção logo mais às cinco. Joga o aparelho no banco do carona e bate com a mão espalmada na testa: droga, droga, droga!” (p. 9).
O primeiro conto do livro abre a obra muito bem e é a promessa, cumprida, aliás, de um bom livro pela frente. Braff começa já com uma crítica social, mostrando o qual alienante é o peso das obrigações. Atualmente, as pessoas “sérias” são esmagadas até que desapareçam. Cabe a uns poucos corajosos quebrar esse julgo, cada um com a sua maneira. Uns criam um clube da luta; outros tomam uma atitude mais prática como a do nosso protagonista.

O segundo conto da obra, O Violinista, é um texto muito curto que narra o encontro de um crítico que reencontra um músico pelo qual possui enorme apreço. Contudo, tal músico, apesar do talento ímpar, tocava em um local onde o público não o apreciava e ainda o ignorava, o que cria uma revolta naquele que é fã e crítico de sua obra.


Neste segundo conto, conhecemos uma faceta totalmente diferente oposta de Braff. O autor deixa de lado um pouco a crítica mais ferrenha e se emprenha numa brincadeira com o impossível, com o quase sobrenatural. É um conto simples, aparentemente direto, mas que precisa de calma para ser entendido em todas as suas nuances. Se no primeiro conto o autor se mostra inteligente, é aqui que ele apresenta a criatividade que ganhará o leitor no decorrer da obra.
“Parei em sua frente, horrorizado com o que via, indignado com a crueldade do destino: o maior talento com que cruzei na vida submetido à indiferença de um público que não era o seu. Cravei-me no granito da escada numa tentativa desesperada de proteger meu amigo de corpos mais pesados, com seus ouvidos de arame farpado. Em alguns momentos, esqueci com os cotovelos as lições de boas maneiras” (p. 17).
Em O Peso da Gravata e Outros Contos, Braff brinca com o leitor e com as diversas possibilidades que o gênero conto permite. Tudo isso através de uma linguagem bem articulada e inteligente, sem perder a fluidez do texto. Os textos são criativos e mantêm um padrão de qualidade, fazendo com que o leitor aproveite bem a obra por completo.

Em relação a parte física, sobram também apenas elogios. A capa representa bem a ideia da obra, apesar de não ser completamente original. A diagramação interna, por sua vez, é um show à parte. A Primavera trabalhou bastante na parte gráfica, apresentando um trabalho editorial de alto nível, o mais bonito que eu já vi nas obras da editora. A revisão também está ótima, ajudando ainda mais no processo de leitura.


Em suma, apesar de O Peso da Gravata não ter sido o melhor livro de contos que eu já li, é uma obra inteligente, interessante e que demonstra todo o potencial do autor. Sem dúvidas, um livro que merece ser lido. Certamente, desbravarei outros trabalhos do autor.
“Ontem, depois de quatro anos, resolvi meu túmulo. Era noite e o cemitério, com seus ricos jazigos alternados com pobres sepulturas rasas, não me assustaram, apesar da hora” (p. 29).


Comentários
20 Comentários

20 comentários:

  1. Oi, Marcos, tudo bem?

    Conseguir fazer um conto ser profundo e intenso realmente é uma tarefa difícil e só aí o autor já chamou minha atenção. Gosto de textos que trazem críticas sociais e que demandem certa atenção para serem compreendidos por completo. Não conhecia o autor e nem o livro, mas curti a proposta.
    Não gostei muito a capa, mas isso é um mero detalhe.
    Excelente resenha como sempre!

    Beijos
    - Tami
    http://www.meuepilogo.com

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  2. Geralmente os contos por ser algo pequeno e raso, acaba não envolvendo leitor, e pela sua resenha a escrita do autor conseguiu te transmitir essa intensidade e profundidade das história de uma maneira exemplar. Ainda não conhecia essa obra, porém fiquei bastante curiosa, principalmente pelo autor de ganhado prêmios, além do mais o livro me pareceu trazer coisas do cotiano que vão nos fazer refletir.

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  3. Oi Marcos!

    Eu adoro contos, tenho diversos livros aqui assim e quero ler todos, um dia! rsrsrsrs
    Tbm não conhecia o autor e fiquei curiosa depois de ler sua resenha, como vc mesmo disse, manter o foco do leitor em um livro de contos é muito difícil, se ele conseguiu esse feito com vc, merece mesmo uma chance!

    Parabéns pela resenha, como sempre, perfeita!

    Bjo bjo^^

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  4. Não tenho o hábito de ler contos, nem conhecia o autor, mas parece uma boa obra

    Beijos!

    EsmaltadasdaPatyDomingues

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  5. Olá Marcos! Adoro contos, este com toda ctz merece minha total atenção tbm, adorei sua resenha, o livro parece uma leitura bem agradável e divertida, qro conferir sim!
    Bjs!

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  6. Nunca tinha ouvido falar desse livro e nem do autor, mas gostei muito do tema desse livro de contos. Fiquei com muita vontade de ler!

    http://www.biigthais.com/

    Beijoos ;*

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  7. Não sou muito fã de livros de contos, mas gostei do que você comentou a respeito deles, além dessas ilustrações que envolvem o leitor com maior profundidade.


    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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  8. Olá.
    Gostei das ilustrações trazidas no livro. Confesso que não curto muito livros de contos, mas achei o enredo desse interessante pelas críticas trazidas em alguns contos.
    Não sei se leria a obra, mas se tiver a oportunidade, não vou desperdiçá-la.

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  9. Adoro contos, principalmente os mais complexos e densos. Parece ser um livro que me agradaria muito. Também acho que vai rolar a inevitável identificação por aqui.

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  10. Oi Marcos, tudo bem?
    Essa também é uma resenha mais antiga né?
    Acho que lembro dela :)
    Ganhar o jabuti é um grande feito. E duas vezes? Uau.
    Isso já me deixa bem curiosa, apesar de não ser lá a maior fã de livros de contos.
    Beijooos
    https://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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  11. Olá, Marcos.
    Não sou muito fã de contos, não, mas me interessei pr esses citados na sinopse. Então acho que leria ele sim. Também nunca tinha visto nada sobre o autor. Não gosto muito de amarelo, é a cor que menos gosto hehe.

    Blog Prefácio

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  12. O livro parece ser muito bom; gostei dos dois contos que você selecionou, sendo que o primeiro, O peso da gravata, foi o que mais me agradou. A diagramação realmente parece estar ótima; gostei muito destas ilustrações. A resenha está ótima, como sempre e a dica, uma dica excelente.
    Abraço!
    A Arte de Escrever

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  13. Olá.
    Gosto de contos, apesar de não ter lido muitos ultimamente. Não conhecia o autor, mas me interessei pela obra. A capa está bonita e as ilustrações enriquecem mais ainda o conteúdo da obra. Sua resenha, sempre muito bem elaborada. Ótima indicação. Obrigada. Abraços.

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  14. Oi Marcos...
    Gosto bastante de contos e este livro parece estar realmente incrível... Uma capa muito bonita e as ilustrações da obra realmente fazem toda a diferença... Fiquei bastante empolgada para ler esse livro e conhecer um pouquinho da criatividade e inteligência de Menalton Braff.
    Abraços.

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  15. Como eu gosto de contos, creio que gostarei desse livro.. Os temas são variados, o que não o torna cansativo né? Espero ter a oportunidade de ler.

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  16. Oi
    eu acho que já a capa desse livro em um blog, que bom que curtiu a leitura e os contos parecem ser intensos e com temas bem interessantes.

    momentocrivelli.blogspot.com

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  17. Ainda não conhecia o autor. E sinceramente o livro não me chamou muito a atenção, apesar de eu gostar bastante de contos e crônicas.
    Parece bacana, mas nada de mais. rs
    bjs

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  18. Pelo o que eu pude perceber, o livro é recheado de contos diversos, o que já é um ponto positivo. Apesar do livro ter vencido um grande prêmio, eu confesso que não fiquei muito interessado. Pelas fotos, dá para perceber o quanto a editora trabalhou no livro, que já é mais um ponto positivo!

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  19. Como já gosto bastante de ler livros de contos, já imaginei que seria um bom livro. Com sua resenha fiquei ainda mais curiosa pela leitura. Os contos citados parecem ser muito interessantes e imagino que os outros também sejam. Pretendo ler com certeza.

    Abraços :)

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  20. Oi Marcos
    Acho que ia me identificar com alguns contos, Às vezes tenho vontade de jogar tudo para o alto também. A vida moderna é muito corrida e difícil, no meu caso utilizo a leitura como forma de relaxamento. Não tenho hábito de comprar livro de contos mas se puder vou conferir.
    Abraços, 
    Gisela
    Ler para Divertir
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