30/09/2016

Resenha: O Herói Improvável da Sala 13B

Título: O Herói Improvável  da Sala 13B
Autora: Teresa Toten
Editora: Bertrand Brasil
ISBN: 9788528620603
Ano: 2016
Páginas: 320
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Sinopse:

Adam Spencer Ross, 14 anos, precisa lidar todos os dias com os problemas que resultam do divórcio dos pais e das necessidades de um meio-irmão amoroso, mas totalmente carente. Acrescente os desafios de seu TOC e é praticamente impossível imaginar que um dia ele se apaixonará. Mas, quando conhece Robyn Plummer no Grupo de Apoio a Jovens com TOC, ele fica perdida e desesperadamente atraído por ela. Robyn tem uma voz hipnótica, olhos azuis da cor do céu revolto e uma beleza estonteante que faz o corpo de Adam doer. Adam está determinado a ser o Batman para sua Robyn, mas será possível ter uma relação “normal” quando sua vida está longe de ser isso?

Resenha:

Resenha escrita pela Thaís Snape.

No Setembro Amarelo, acabei pegando um livro que, por coincidência, fala sobre TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo) e outros distúrbios. A escolha não poderia ter sido melhor para falar de assuntos tão pouco comentados e tão atuais, sendo muito importantes para salvarmos pessoas que, às vezes, nem percebemos que têm esses problemas e só precisam, principalmente, de nossa compreensão e respeito.

Gostei do Adam na primeira página; não estou brincando, sua forma de contar como apaixonou-se por Robyn é graciosa, além disso, ele mostra como enfrenta seus distúrbios, como sua obsessão por ordenar. Contar e ter pensamentos mágicos e de purificação deixam-no como um personagem especial. Identifiquei-me com sua obsessão de contar e ter pensamentos de purificação, é como ele descreve no livro, é algo que você tenta parar, mas sua mente não obedece e não deixa, só que no caso do Adam é mais grave que parece e isso se mostra em inúmeras situações.
“Já tinham se passado trinta e sete minutos e, tirando aquele sorriso solitário, Robyn não havia olhado para ele nem uma vez. O que estava errado? Algo estava. Ele estava ferrado. Ela o odiava. Completamente compreensível, óbvio, mas por quê?”

O Dr. Chuck Mutinda, responsável pela Sala 13B, avalia e comanda o Grupo que Adam faz parte com outros jovens que tem vários distúrbios ou TOC; um deles acredita que atropelou alguém e que ninguém noticiou, um atleta acredita que tem várias doenças que podem matá-lo e precisa fazer inúmeros exames; outra é claustrofóbica e tem problemas alimentares. São vários outros heróis que enfrentam diariamente seus problemas pessoais. Chuck passa uma tarefa: cada um teria que escolher um nome de guerra, a maioria escolheu ser um super-herói temos Wolverine, Mulher Maravilha, Snooki, Lanterna Verde, Thor, Robyn, Homem de Ferro, Capitão América e Batman. Cada um, em algum momento, perceberia que não escolheu esses nomes à toa, cada herói terá um significado.


E assim cada um passa a chamar-me pelo nome de guerra, Adam escolheu ser o Batman para sua Robin, pois percebeu que ela precisava ser salva e protegida e não mediria esforços para isso, nem que tivesse que mudar alguns de seus hábitos, esforçar-se para melhorar, preocupar-se mais com o bem-estar de sua amada do que com o dele. Sua força de vontade e esse desejo de salvá-la mostra alguém tão forte, com um grande instinto protetor e com uma enorme empatia e acabei ficando a cada página mais apegada e cativada por esse Batman.

Os pais do Batman são separados. Sua mãe, Carmella, tornou-se outra pessoa depois da separação. Agora nosso herói também tem um meio-irmão que foi apelidado de Docinho e sua ótima madrasta Brenda. Sua relação com seu pai felizmente manteve-se a mesma e seu amor por Docinho é tão forte que o menininho de cinco anos não consegue viver sem a companhia dele e é ele quem sempre afasta os medos do pequeno, quem o ajuda e brinca com seus brinquedos. Docinho tem alguns problemas, mas isso não impede de o Cavaleiro das Trevas amá-lo mais; é um vínculo tão forte que era nítido e fui capaz de sentir esse amor entre os dois. Eu acho que esses dois estavam disputando para descobrirem quem eu mais adoraria e claro que foram os dois; de todos os personagens apresentados esses dois foram meus favoritos.

Como se não bastasse os obstáculos diários, agora surge algo sério relacionado a sua mãe, algo que perturbará mais o Morcego do que com ela própria. Além disso, ele percebe que segredos entre eles começam a surgir, seu fardo só aumenta e mesmo assim não deixa de ser o herói que ninguém imaginava e que aos poucos começa a ser reconhecido pelas pessoas que o cercam.
“Acredito que mentir é doentio e que torna tudo mais doentio e que não se deve acreditar em mentirosos. Mas, por outro lado, todo mundo mente.”


Todo mundo mente assim disse Chuck em uma consulta particular com o Batman que tem uma obsessão de sentir-se culpado toda vez que mente, mesmo quando foram mentiras não propositais ou que pareciam a melhor forma de não magoar quem ele amava. Então ele mentia sobre sua situação, sobre seu progresso, sobre seus remédios, sobre como se sentia com tudo que estava passando, sobre a estado de sua mãe, tudo isso para ser mostrar-se forte e não preocupar as pessoas que precisa cuidar.

Fiquei desesperada e querendo ajudar Adam em vários momentos. O livro mostra de uma forma delicada e sensível, que fará o leitor perceber como é ter esses distúrbios, como é ser esses heróis, como é ser julgado como maluco, como é sentir preconceito, como é saber que perdeu uma batalha, mas não a guerra, como é saber que você não pode salvar todos, mas mesmo assim continuar tentando até suas forças esgotarem-se. É ser alguém que você não imaginava poder ser e principalmente aprender um pouco mais com esses personagens e respeitá-los, reconhecer que pessoas assim podem ser curadas e precisam ser ouvidas e apoiadas. Muitas das vezes temos pessoas que estão começando a ter esses problemas e não levamos a sério, e esse assunto deveria ser enfatizado todos os dias, conscientizar as pessoas diariamente, não apenas em setembro.
“– Às vezes é necessário magoar aqueles que você ama. Pode checar isso com seu médico sofisticado, ou aonde quer que você vá toda segunda-feira. - Ela bateu de leve em sua mão. - Desapegar, Adam. Essa é a parte realmente difícil de crescer. Você está pronto.”
Os problemas do Batman pareciam para ele ser menores que os de seus amigos, sua amada Robyn, seu Docinho e sua mãe. Porém, a realidade é fria e dura, e esse Cavaleiro das Trevas enfrentará seus problemas que parecem piorar e mesmo assim continua a negligenciá-los. Seu Grupo passará a ser tão importante e fundamental em sua vida que nem ele mesmo poderia imaginar. Ele se tornará de verdade o herói daquelas pessoas, um garoto de quinze anos que nem percebeu que estava crescendo tanto fisicamente quanto figuradamente, e infelizmente não será nada glorioso e feliz, porque crescer significa machucar-se, magoar quem a gente ama, sofrer, rir; é uma montanha-russa de sentimentos e emoções que até então eram desconhecidas. A vida é uma verdadeira escola.


“Droga. Ele se lembrou agora de por que odiava fazer essas coisas. Realidade nua e crua. A realidade era uma droga. Ele era uma droga. Que enorme droga ver como ele era uma droga no papel. E estava ficando pior - não adiantava negar-, o que era uma droga maior ainda.”

Acredito que todos nós temos um pouco de Adam, não apenas com seus transtornos e distúrbios, mas com sua vontade de ser um herói para alguém, enfrentar suas dificuldades sem desistir. Pessoas que são como o Batman e seu Grupo são verdadeiros heróis, o fardo que carregam, a luta que travam todo dia dentro de si e a realidade com a qual precisam lidar, com o preconceito, com a indiferença e rejeição e ainda assim continuam vivos, continuam confrontando seus medos e julgamentos tanto pessoais quanto de pessoas que nem sabem dez por cento do que é viver assim. Eu gostaria de poder ouvir e tentar ajudar o máximo de pessoas que eu pudesse; esses heróis que conheci nesse livro são verdadeiros ícones de resistência, de mostrar às pessoas que o mundo não pode ser tão individualista. Não devemos fechar os olhos para aqueles que querem nossa ajuda, afinal, eles, às vezes, apenas precisam de nossa atenção e de não se sentirem sozinhos. Se você é uma dessas pessoas, não sinta vergonha e nem medo de falar o que está acontecendo, procure ajuda e converse com aqueles que você tem afinidade ou até comigo.
"Bem, droga, talvez todo mundo tenha razões muito boas para mentir. Talvez nós todos mintamos para esconder a mágoa ou fingir que somos fortes até podermos ser fortes. Isso não é tão ruim, é?
É? "

Esse livro foi mais emocionante e reflexivo depois que li e vim escrever essa resenha, li-o em um dia por não conseguir largar o Batman em sua jornada diária até se tornar o herói de Robyn e que no final tornou-se alguém tão especial, querido e reconhecido por pessoas que, até então, ele pensava que não o entendiam. É uma leitura que faz você rir em momentos inesperados, chorar e sentir-se alguém com mais empatia, talvez até com menos preconceitos e julgamentos. Teresa Toten escreveu com uma sensibilidade e delicadeza que me fizeram sentir parte desses personagens, de poder sentir mesmo que pouco como é ser alguém assim e de perceber o poder que a palavra, fé e força de vontade têm sobre essas pessoas. Ficará impossível não se emocionar com a grande história e lição entre essas páginas.


A Bertrand Brasil, como sempre, traz livros emocionantes e que marcam o leitor; O Herói Improvável da Sala 13B entrou na lista dos meus favoritos, e eu preciso dizer que essa capa está tão linda e simbólica, achei a melhor capa dentre todas as que vi. A capista Izabel Barreto fez um belo trabalho. A revisão da querida Janda Montenegro ficou impecável, nem consigo imaginar como deve ter sido doloroso e comovente revisar essa maravilha. A tradução do Rodrigo Abreu ficou excelente. É notável o trabalho que tiveram e merecem o reconhecimento.

Se você gosta de histórias emocionantes que vão fazer você rir e sentir-se alguém melhor e que não está sozinho, o Adam Spencer Ross terá todo o prazer de ser seu herói e encantá-lo em sua trajetória.
Comentários
22 Comentários

22 comentários:

  1. Como não conhecia o livro, fiquei encantada com tudo que li acima! Uma "doença" tão desconhecida ainda, mas tão comum hoje em dia. E ver que um garoto tão jovem, pode ter tantos sonhos e mesmo com tanta dificuldade, conseguir lutar pelo que quer e ainda assim, ajudar tantas outras pessoas com ou mais problemas!!!
    Lista de desejados, urgente!!!
    Beijo

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  2. Oi, Thais!
    Deu realmente pra perceber que você amou o livro.
    Por enquanto, eu estou numa vibe de livros mais levez, mas com certeza vou dar uma checada nesse.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Participe da promoção 5 Anos de Além da Contracapa

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  3. Olá.
    Que bom sentir que você gostou da leitura. Sua resenha reflete isso! Parece uma leitura bem reflexiva. Mas no momento deixo passar a dica, quem sabe em outra ocasião. Resenha perfeita. Beijos.

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  4. Que maravilha esta leitura ter sido coerente ao mês de Setembro, gosto de livros que quebram tabus e falam de assuntos que normalmente não são comentados. Tenho certeza que também irei aprender muito com o personagem e querer cuidar dele.

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  5. eu não conhecia o livro nem a autora na verdade
    mas fiquei super curiosa para ler, afinal não são todos os escritores que conseguem trabalhar o toc de uma forma sensivel
    na verdade existem vários tipos de toc, mas um dos tipos é justamente a questão das listas é marcante
    mais um para a minha lista!

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  6. Oi, Thais!!
    Gostei muito da história do livro. É um livro interessante com problemas reais e com uma doença que muitas pessoas não sabem bem como é, o Transtorno obsessivo-compulsivo - TOC. Fiquei muito interessada em fazer a leitura desse livro.
    Beijoss

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  7. Tenho visto vários comentários promissores sobre essa obra, e eu estou cada vez mais curiosa. Sua resenha está impecável e acho que deixou claro alguns pontos que todos nós gostariamos de saber sobre esse personagem. Adoro histórias que abordam transtornos e distúrbios, então essa esta praticamente inserida na minha wishlist.
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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  8. Oie! Eu tinha lido uma resenha apenas desse livro, se eu já tva interessada em ler imagina agora com tantos detalhes da sua resenha...Qro pra ontem!
    O enredo tá excelente, a autora soube envolver o leitor, gostei mto!
    Bjs!

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  9. Super legal a história, tenho TOC e devo admitir a premissa me chamou muito a atenção.
    Ainda não conhecia a obra e o escritor.
    Art of life and books.

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  10. Nossa,simplesmente amei a história de Adam. E fiquei mesmo sem ter lido o livro, emocionada com todos os problemas que ele enfrenta... E mesmo assim desejando resolver os problemas de todas as pessoas que ele gosta . E sentindo- se o responsável por tudo de errado que acontece a sua volta.

    Acho que a escolha de Adam pelo nome de guerra foi perfeita!
    O Batman tenta sempre ajudar quem mais precisa.

    Adorei!!!!

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  11. Oi, Thais
    Ainda não conhecia o livro, mas gostei dos questionamentos sobre preconceitos e aprendizado sobre o TOC que a obra aborda.
    Um livro emocionante sempre é uma boa pedida, ainda mais para quem gosta. Quando ainda tem um toque divertido, fica ainda melhor.

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  12. Oie! Tudo bem? Esse livro parece ser muito bom! Vou procurar ele para ler com certeza!
    Bjss, comenta nesse post vai ajudar muito: http://resenhasteen.blogspot.com.br/2016/09/me-aguarde-5-kenshin-festival-ai-vou-eu.html

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  13. Olá, Thais.
    Eu li bastante resenhas desse livro e a sua é a segunda que vejo elogiando o livro. A maioria que li, não gostaram. Já li dois livros que abordam o assunto, e infelizmente não gostei muito de nenhum dos dois. Então quem sabe eu leia esse, mas não vou ler tão já.

    Blog Prefácio

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  14. Gostei do livro, quero ler conheci o seu blog hoje se quiser visite o meu blog lá estou começando com resenha de livros: intelicrentes.blogspot.com.br

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  15. Não conhecia o livro, mas achei a história super interessante. Fiquei com muita vontade de ler, porque é um assunto que me interesso.

    http://www.biigthais.com/

    Beijoos ;*

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  16. Oie
    Ainda hoje eu vi este livro na livraria e fiquei curiosa, mas não sabia exatamente do que se tratava. Gostei da premissa, não sabia que era sobre o toc, fiquei com vontade de ler, gosto desses temas.

    Beijinhos
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

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  17. Que proposta sensacional! Tantas metáforas, descontruções de possíveis paradigmas e reflexões críticas em entrelinhas. Fiquei encantada pela análise que traz tantas dessas mensagens plantadas desde e impulsiona a releituras internas intensas. Não sabia sobre a obra, mas foi incrível o quanto concordei com cada elogio que trouxe apenas por ler a resenha. Imagino que a sensibilidade seja tão singular! Estou louca para ler com completude.

    www.semquases.com

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  18. Thais
    Acho que não leria o livro pela sinopse, mas depois de ler a resenha achei a história bastante emocionante. E quando se trata de jovens com problemas então fico ainda mais sensibilizada. Parabéns pela belíssima resenha.
    abraços
    Gisela
    www.lerparadivertir.com

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  19. Já estou apaixonada por esse livro, e ainda nem o li. Ele vai pra minha lista de desejados com certeza. Estou louca pra conhecer o Adam e o irmãozinho dele. A Robyn sinceramente não me interessou muito só lendo a resenha, mas posso gostar no livro.

    Abraços :)

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  20. As crianças que se identificam com o Batman são as melhores kkk Não, não são, são as mais emocionalmente propensas a quebrar, mas desde que um Batman da minha vida me elegeu sua Mulher Maravilha (pq, nas palavras da criança, a Mulher Maravilha é amiga do Batman) eu passei a ter uma veia de amor especial aos meninos morcegos com sindrome de vigilantes e protetores de indefesos.

    Esse era um daqueles livros pelos quais eu não dava nada, ai li uma e mais outra resenha a respeito dele e me pego aqui tendo plena consciencia da necessidade de ter ele em mãos e ler toda a história, como você, em um dia, para não deixar os pequenos heróis sozinhos em suas jornadas.

    Pandora
    O que tem na nossa estante

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  21. Oi Thaís!
    Eu já li um livro no qual a protagonista também tinha TOC (The Butterfly Clues), e é mesmo muito legal ler esse tipo de livro. Abriu muito a minha cabeça. Não é fácil entender essas pessoas e acho que esses livros ajudam muito a divulgar e desmistificar isso.

    Obs: Desculpe o sumiço, estava viajando mas agora estou de volta. ;)

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  22. Olá, que resenha maravilhosa e tocante! Eu vi esse livro por agora e fiquei muito contente ao ele abordar diversos tipos de distúrbios, assim podemos conhecer mais sobre eles e descobrir como as pessoas ficam ao passar por essas situações. Eu adoraria conhecer mais sobre o autor e os personagens desta história, parecem ser ótimos!
    Beijo.
    Leitora Encantada

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