21/10/2016

Resenha: Placebo Junkies

Título: Placebo Junkies
Autora: J. C. Carleson
Editora: Fábrica 231
ISBN: 9788568432754
Ano: 2016
Páginas: 304
Compre: Aqui

Sinopse:

Audie é uma jovem como qualquer outra, mas encontrou uma forma incomum de descolar uns trocados: ela serve de cobaia para a indústria farmacêutica. Neste irreverente romance, J.C. Carleson, ex-agente da CIA, mergulha no universo pouco conhecido, mas muito impressionante, dos voluntários em série de testes farmacológicos. Na tradição de Trainspotting e Drugstore Cowboy, doses cavalares de humor negro disputam espaço na trama com o drama de jovens que vivem no limite. No caso de Audie, ela precisa juntar dinheiro para oferecer a Dylan, seu namorado que tem uma doença terminal, uma festa de aniversário de 18 anos inesquecível. “Não há ganho sem dor”, ela repete, em meio aos efeitos colaterais das substâncias e procedimentos a que está sujeita e aos esquemas para lidar com eles. Mostrando as entranhas de um mundo desconhecido da maioria das pessoas.

Resenha:

Placebo Junkies atraiu minha atenção pelo nome e em seguida pela sinopse tão interessante e intrigante, abordando um tema que não é comum de se encontrar; eu, particularmente, nunca tive interesse por não se tratar de um assunto comum, por não ser algo que lemos ou ouvimos com facilidade nas mídias. Exatamente por isso, o livro conseguiu deixar-me absorta na leitura e totalmente mais familiarizada após. Quer saber como? Confira abaixo.

No prólogo nos é apresentado como são os voluntários, sem enrolação, entendemos um pouco como entrar nesse mundo e só saberemos como os personagens chegaram ou o que são ao decorrer da leitura, deixando o leitor com uma curiosidade absurda. Como tornaram-se voluntários? Quais os riscos e perigos? Quanto recebem? Quanto tempo estão nesse meio? Por fim, como descobriram esse mundo de negócios? Todas essas perguntas são respondidas ao longo da leitura.
“E isso, meus amigos, é muito mais do que qualquer outra pessoa jamais quis para mim. Então, claro, essa vida pode me matar. Mas, na minha experiência, a vida real mata você ainda mais rápido”.

Com uma linguagem bem direta, a nossa narradora-personagem Audie nos contará, com um humor negro, como ela e os outros adolescentes vivem. Não espere uma história de superação, pois não é; aqui iremos saber como somos desatentos para muitos assuntos, e as empresas farmacêuticas é um deles. Cada personagem tem um passado nada feliz, diria horrível e até deprimente em alguns casos. Aliás, se não fosse pelas relações deles com a Audie saberíamos pouquíssimas coisas.

Aos poucos sabemos como Audie tornou-se “voluntária” ou cobaia e como lida com o dinheiro que recebe. Por ser menor de idade, não tem como criar uma conta no banco e aparentemente ela não mora com os pais, é independente, aprendeu a crescer nas ruas e conheceu esse mundo submerso dos testes de drogas e os esquemas que utiliza para conseguir uma grana, às vezes, alta. Ela nos explica quando saber a hora de desistir de um “negócio” se for muito perigoso, nos explica todos os esquemas utilizados e como conseguem arrecadar uma bolada de dinheiro se souber administrar, e vai ser assim que ela vai querer esse dinheiro para realizar a melhor festa de 18 anos para Dylan.
“O medo é o dom que não para de ajudar, um presente de aniversário das criaturas rastejantes e com crânios achatados das quais evoluímos. A disposição de dizer que se foda esta cena e fugir é o que manteve seus ancestrais Neandertais livres da ponta afiada de uma presa de mamute lanoso”.

“Não há ganho sem dor” e Audie sabe muito bem disso. Quanto maior a dor, mais dinheiro se consegue. Retirar sangue e algumas amostras são fichinhas comparadas com alguns testes, como, por exemplo: uma amostra de tecido celular, ser cobaia de alunos de medicina, sobre algumas lacerações e outros métodos. Essa esfera de testes pode chegar, em alguns casos, a ser cruel. Com ajuda de um esquema bem armado, a jovem vai tentar participar de quase todos os exames ou experimentos, tudo com o pretexto de ser a única forma de pagar o presente de Dylan e que não durará por muito tempo esses dias de tortura.

Embarcados nessa viciante trilha de remédios e placebos, observamos os descasos dos funcionários, que nem olham para a cara dos “voluntários” e nem para suas identidades falsas; algumas clínicas não têm controle sobre essas cobaias e acaba pegando os mesmos e, quando descobrem, já é tarde demais, pois precisa pagar visto que já tem a papelada assinada. Os “pacientes” são maltratados e são vistos apenas como objetos e contêineres de dinheiro. Muitas das vezes, as pessoas que conseguiram entrar nesse meio foi como última alternativa para sobreviver.
“ Sabemos que a mão que nos aplica injeções é a mesma que nos alimenta”.

Percebemos, ao longo do livro, que existem diferentes cobaias: as que são realmente doentes e precisam daquele teste ou tratamento específico como uma última chance de tentar se salvar; as que fazem sem perceberem que estão sendo testadas; e as que são como Audie, que estão pelo dinheiro que irão receber e outras vantagens. São tantas opções e testes que fiquei boquiaberta em como o ser humano pode tirar lucro de pequenas negociações e oportunidades; um personagem em questão apresenta esses traços.

Audie quer realizar de qualquer forma essa festa que custa um valor exorbitante, e cada vez mais nos conta nos testes, experimentos e tratamentos que se envolve, em como entre as cobaias existem traições e pessoas que querem tirar vantagem de você a qualquer custo. Alguns testes, eu achei surreais, mas a curiosidade de saber como a personagem se vira fez-me avançar ainda mais na leitura.
“[...] Mas acho que se eu aprendi alguma coisa com essa vida de rato de laboratório, é a importância do controle. A importância de pegar toda a porcaria que a vida tenha jogado em cima de você em todos esses anos, e devolver pra quem arremessou”.

A construção dos personagens é tão verossímil e detalhista que fica nítido que a autora escreveu com muita pesquisa e perspicácia. Cada personagem tem uma história que descobrimos pela narração de Audie ou entendemos pelas sutis dicas como foram deixadas; de outros, não sabemos a história. Como em todo livro, iremos nos apegar a alguns e odiar outros e nesse não foi diferente. Dougie, meu querido, como te odeio! Audie, como você é uma heroína da sua maneira para nós. J.C Carleson narra uma história alucinante e viciante que faz o leitor abrir os olhos para as indústrias farmacêuticas e o emociona e desafia com as questões abordadas. Como disse, não espere finais felizes e nem coisas boas, essa história é sobretudo reveladora e muito perto da realidade cruel e violenta que vivemos. Como este foi o primeiro livro que li da autora, posso dizer que ela ganhou uma fã e que estou ansiosa para poder ler um dia seus outros livros que parecem ser tão bons quanto esse ou até melhores.

Quando percebi o verdadeiro propósito do livro, eu fiquei estarrecida e sem palavras. Acontece uma reviravolta tão grande no livro que nunca poderia desconfiar e, ao mesmo tempo, o quebra-cabeça que nem sabia que existia começava a fazer sentido. Audie estava cada vez mais arriscando-se nesses testes; os efeitos colaterais já não valiam a pena, nem mesmo pelo dinheiro que se recebe. Esse mundo de cobaias é algo extremamente perigoso e também lucrativo, mesmo para aqueles que sabem onde estão envolvidos e conhecem as façanhas utilizadas. É um meio ainda mais perigoso para as pessoas que desconhecem ou pouco entendem os perigos e sacrifícios feitos por indivíduos que não possuem outras opções ou só querem o dinheiro.
“Todos temos nossas vidas de fantasia, não temos? Eu me dou conta de que há uma linha tênue entre delirante e ambicioso. Todos estamos basicamente na esperança de uma realidade melhor”.

A história fala sobre doentes mentais, sem-teto, e como são as mais vulneráveis para entrar nesse mundo. Nossas concepções ideológicas, através do enredo, são confrontadas; além disso nos questiona sobre nossas afirmações e nos desafia. Cada verdade revelada é uma punhalada que recebemos, tudo é e deve ser questionável, o livro nos faz desconstruir um pouco a questão de que nem sempre as empresas farmacêuticas são a vilã, não apenas como a raiz de todos os males, tudo tem seu lado bom e ruim, a cura e o sacrifício, o remédio e a loucura. Aliás, não é diferente com essas indústrias; quem não quer os melhores medicamentos, as melhores curas e com máxima rapidez?  Deixo essas questões para vocês; ao lerem esse livro, irão compreender o que a autora quis dizer.

A Editora Rocco mais uma vez conseguiu nos trazer uma história incrível, manteve a capa original, e os pequenos detalhes que a editora criou deixaram-na ainda melhor; a revisão está ótima, a tradução do Edmundo Barreiros ficou maravilhosa, mesmo os termos e palavras pouco usadas para quem não é da área de saúde. A diagramação, por sua vez, ficou coerente e com letras e espaçamentos confortáveis.

Se você gosta de livros com temáticas diferentes e pouco abordadas, vai gostar dessa história e irá terminá-la sentindo-se um pouco mais conhecedor do assunto.




Comentários
13 Comentários

13 comentários:

  1. Eu sou fascinada por livros não comuns! Que saem da mesmice e trazem assuntos poucos explorados.
    Aqui no Brasil, esse tema ainda é muito complexo. Mas todos sabem que lá no exterior, essas práticas são mais comum do que imaginamos!
    E é bom demais saber que pouco disso foi retratado neste livro!
    Lerei assim que puder!
    Beijo

    ResponderExcluir
  2. Oie
    Achei este livro com uma temática bem diferente, mas parece ser bem interessante. Fiquei com vontade de conferir.

    Beijinhos
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Oi Thais!

    Olha, confesso que pela capa, eu não compraria. Mas fiquei curiosa com a sinopse e depois de ler sua resenha, a curiosidade me venceu!
    Achei o enredo diferente e como nunca li nada parecido, vou adicioná-lo na minha lista de desejados e torcer para gostar da leitura tanto qto vc!

    bjo bjo^^

    ResponderExcluir
  4. Oi, Thais!
    O que me chamou mais atenção nesse livro foi o título. Depois que li a sinopse, sabia que seria algo completamente diferente do que já li.
    Como sempre, sua resenha está impecável!
    Beijos
    Balaio de Babados
    Participe da promoção 5 Anos de Além da Contracapa
    Participe do sorteio Halloween Literário

    ResponderExcluir
  5. Thais, preciso desse livro!
    Eu não conhecia a obra, mas sua descrição, sua resenha, suas impressões me deixaram com muita vontade de ler.
    Gosto de histórias diferentes, que nos levam a pensar em assuntos que no dia a dia nem nos lembramos que existem.
    E isso da reviravolta me deixou curiosa. O que acontece, gente???
    Hahahaha
    Quando falam sobre testes assim, lembro do Joey no Friends, mas ele vendia esperma, sangue, essas coisas, nenhum teste de verdade, haha.

    Beijooos

    www.casosacasoselivros.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Teca! Tudo bem?
      Você vai adorar então! Eu gostei demais dessa história e da escrita da autora, espero que tragam os outros livros dela.

      Beijos <3

      Excluir
  6. O tema desse livro é bem diferente, a sinopse já me atraiu de cara!

    Beijos!

    EsmaltadasdaPatyDomingues

    ResponderExcluir
  7. No fim das contas o mundo é grande demais, tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que sempre nos escapa os detalhes de como algo funciona, seja o coisas que nem reparamos como o mundo das cobaias farmaceuticas, até mesmo sei lá, o mundo da moda! Nós nunca sabemos como as coisas funcionam de verdade, por isso leituras desse tipo sempre parecem bem interessantes, para dizer o minimo.
    De repente posso dar uma atenção especial a ele
    bjos LP
    quatroselos.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  8. Thaís!
    Livros com temáticas diferentes e que nos tiram da zona de conforto são sempre bem interessantes, ainda mais quando mostram uma realidade que não estamos acostumados a ver.
    Embora nos EUA isso seja bem constante e há vários casos que já li, até de morte nesses testes... triste, mas verdadeiro.
    Fiquei bem interessada pelo livro.
    “Com a sabedoria aprendemos a ser tolerantes.” (Henry David Thoreau)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de OUTUBRO com 3 livros + BRINDES e 3 ganhadores, participem!

    ResponderExcluir
  9. Oi, Thaís!!
    Que livro mais interessante ainda não li nenhum livro com um tema tão diferente!! Gostei muito de conhecer esse livro!! Sempre tive uma curiosidade para saber como os medicamentos são testados.
    Beijoss

    ResponderExcluir
  10. Olá!! Gostei do enredo, bem diferente dos livros q já li, isso q tá faltando pra mim desbravar outros gêneros tbm...
    Bjs

    ResponderExcluir
  11. Também gosto de ler livros com temáticas mais tocantes e incomuns, e esse deu pra perceber que é exatamente assim!
    Acho que trará boas reflexões.
    Vou anotar aqui e procura-lo pra ler logo logo!
    abs

    ResponderExcluir
  12. Esta indústria de remédios é algo bem contraditório, eles fazem muito bem para a população com a descobertas de novas drogas que irão salvar muitas Vidas, mas alguns vezes os métodos que empregam para criá-las e principalmente testá-las são horripilantes. E existem alguns livros e filmes que retratam isso muito bem. É um livro que no mínimo será muito esclarecedor. Gostei da dica.
    abraços
    Gisela
    www.lerparadivertir.com

    ResponderExcluir

© Desbravador de Mundos - Todos os direitos reservados.
Criado por: Marcos de Sousa.
Layout por Fernanda Goulart.
Tecnologia do Blogger.
imagem-logo