28/01/2017

Resenha: A Cidade Sitiada

Título: A Cidade Sitiada
Autora: Clarice Lispector
Editora: Rocco
ISBN: 8532508731
Ano: 1998
Páginas: 191
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Sinopse:

Lucrécia Neves vive num subúrbio em crescimento, São Geraldo, na década de 1920. O desejo de ser rica e de sair dos limites da cidade a fazem apostar no casamento com Mateus, que a leva para morar na cidade grande. No entanto, a nostalgia do subúrbio a invade de tal forma que ela retorna a São Geraldo, agora tão diferente daquela em que vivera. Viúva, ela se vê diante da possibilidade de iniciar uma relação amorosa mais verdadeira com o doutor Lucas, fato que não se concretiza. A carta da mãe chamando-a para mudar-se para a fazenda dá-lhe uma nova chance de jogar-se numa aventura amorosa e na busca de si mesma.

Resenha:

Lucrécia Neves é uma personagem complexa, dessas que a gente encontra principalmente na obra da Clarice Lispector. Uma quase alma gêmea de Macabéa, a protagonista tem um vínculo todo especial com o subúrbio de São Geraldo e é praticamente desprovida de pensamento próprio: ela é o que ela vê; ela é o seu subúrbio tão amado.

Lucrécia se mistura completamente com a paisagem, com aquilo que vê. Contudo, apenas isso não basta, ela quer algo mais. Para isso, namora, buscando um casamento. No começo, tinha dois namorados: Felipe, um militar, suprindo a fixação da protagonista por homens de farda; Perseu, homem belo e bem-educado, mas um fraco, que não marca posição. Entre encontros com um e outro, Lucrécia não recebia seu pedido de casamento e também continuava sitiada. Ela não sabia do que vinha a asfixia, mas ela existia.


Entre um e outro, a moça acaba se casando com um terceiro, que a leva para longe de São Geraldo; a sua visão muda, o que ela é muda também um pouco. As sensações são diferentes, mas ainda resta um pouco de nostalgia, de desejo de voltar para casa, para o seu subúrbio. Lucrécia quer muitas coisas, o amor, o fim da sua carceragem, o pensamento... Mas ela não vê nenhum deles, então não os alcança. Tudo na vida da protagonista parecia altamente complexo. Seria ela capaz de transpor tudo?
“Até centros espíritas começavam a forma-se acanhadamente no subúrbio católico e Lucrécia mesma inventou que às vezes ouvia uma voz. Mas na verdade ser-lhe-ia mais fácil ver o sobrenatural: tocar na realidade é que estremeceria nos dedos” (p. 23).
A Cidade Sitiada é um romance diferente do que estamos acostumados, principalmente por Lucrécia ser uma protagonista incomum. Com pouca vontade própria e quase nenhum pensamento, ela vive por imagens, pelo que sente. Isso dá à obra uma característica totalmente diferente, algo entre uma visão profunda e uma sinestesia exacerbada. O texto torna-se mais do que um livro, mas uma experiência literária complexa, densa, mas envolvente.

A linguagem do texto é mais voltada para a conotação, para o metafórico, para os sentidos. Por isso, a leitura é mais lenta e cada detalhe é essencial para que se entenda a obra. As descrições são grandes, fazendo com que o leitor veja e sinta aquilo que Lucrécia também vê. Há um claro objetivo de nos envolver, de nos sitiar, tornando-nos, assim, companheiros da protagonista na jornada de descobrindo e redescobrimento.


Apesar do livro ser denso, a simplicidade é uma marca evidente da obra. Tudo na vida de Lucrécia é simples, até porque ela vive pelo que ela vê. Então não espere grandes pensamentos e reviravoltas, o livro segue o fluxo da visão, da vida. Há uma sequencialidade nas ações e sentimentos simples, mas que envolvem completamente.
“A moça não tinha imaginação mas uma atenta realidade das coisas que a tornava quase sonâmbula; ela precisava de coisas para que estas existissem (p. 43).
Por ser uma obra mais densa, A Cidade Sitiada não é para todos e nem para todos os momentos; é necessária vontade de lê-la, de se entregar ao fluxo narrativo e se deixar levar pelas experiências literárias. Lida no momento errado, provavelmente ficará aquém das expectativas. Caso seja desbravada no momento correto, maravilhará o leitor. Para tal, não pode ser lida com pressa e nem desleixo, mas com atenção redobrada, comendo as linhas e as entrelinhas.

Quanto à parte física, há também só elogios para o trabalho da Rocco. Temos uma capa belíssima e que retrata muito bem o que podemos esperar do texto. Ademais, a editora providenciou um trabalho totalmente especial com o texto, gerando uma leitura profunda e agradável.



Em suma, A Cidade Sitiada é uma grande obra, mas que precisa ser desbravada no momento correto, sem pressa, sem afobação. Cada palavra precisa degustada. Para quem gosta de livros mais profundos, sem dúvidas esse é uma ótima opção.


Comentários
14 Comentários

14 comentários:

  1. Oi Marcos!
    Sou uma fã doida pela Lispector...Amo cada palavra escrita dela...
    O livro tá lindo!
    Bjs!

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  2. Devo admitir que já li o livro, para apresentar um trabalho de literatura na escola e de início rejeitei o enredo e até achava meio chato, mas o livro é muito bom e a história de Lucrécia é muito boa e instigante.
    Art of life and books

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  3. A gente sempre se perde em livros assim. Ou ao menos, eu sempre me perdi. Já "li" este livro tem um tempo, apesar de não o considerar leitura, mas sim, um se jogar dentro da imaginação.
    Cada palavra te remete a um cenário diferente, a uma espécie de sonho dentro de um sonho.
    É fantástico,mas realmente tem que ser lido no momento certo, ou essa viagem não traz nada de novo à nossa vida!
    Beijo

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  4. esse da clarice não li. beijos, pedrita

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  5. Com certeza vai pra lista... e no momento certo, será desbravado com amor!

    Amei a resenha!! ♥

    Bjkssss

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  6. Me parece que a protagonista nunca está satisfeita com o que tem hahaha. A obra realmente apresenta um aspecto diferente pela forma que é narrada, e acho que exatamente por ser densa, não iria me agradar muito :( ótima resenha!!

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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  7. Só por ser da Clarice Lispector me dá vontade de ler o livro! Porém, fiquei ainda mais curiosa depois de ler a resenha. Acredito que deve ser muito bom!

    Magia é Sonhar

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  8. Oi, Marcos!!
    Acho que nunca li nada da Clarice Lispector!! Que é uma pena pois minha irmã é muito fã da sua os obras!! Gostei bastante do conhecer esse livro espero ler em breve!!
    Bjoss

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  9. Apesar de admirar muito a Clarice Lispector eu não fiquei muito animada pra ler esse livro não. Acho que as características da personagem e sua trajetória não me deixaram curiosa para conhecer um pouco mais dela.

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  10. Marcos!
    Ler Clarice é um deleite e precisamos de tempo para saborear todas suas nuances através de personagens simples, porém complicados de se entender.
    Bom final de semana!
    “A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.” (Platão)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de JANEIRO dos nacionais, livros + BRINDES e 3 ganhadores, participem!

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  11. Oi, Marcos!
    Esse livro ainda não tive o prazer de ler, mas conheço a escrita da autora e sei bem sua intensidade. Não pretendo ler agora, mas em algum momento, com muita calma.
    Ótima resenha e indicação.
    Abraços.

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  12. Tenho que admitir que não li nenhum livro da Clarice Lispector mas a vontade eu tenho sim. Que legal saber que é uma personagem diferente e um romance incomum.
    Fiquei muito animada para ler porque adoro histórias profundas.

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  13. Parece realmente ser um livro muito bom, gostei muito da personagem, dessa confusão de pretendentes. Gostei da dica e resenha.
    Abraço!
    A Arte de Escrever

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  14. Amo Clarice, vou adicionar esse livro na minha lista. Bela resenha! www.pequenosdevaneios.com.br

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