29/05/2017

Resenha: Nós

Título: Nós
Autor: Evgueny Zamiatin
Editora: Editora Aleph
ISBN: 9788576573111
Ano: 2017
Páginas: 344
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Sinopse:

Nós é um romance distópico escrito entre 1920 e 1921 pelo escritor russo Yevgeny Zamyatin. A história narra as impressões de um cientista sobre o mundo em que vive, uma sociedade aparentemente perfeita mas opressora, e seus conflitos ao perceber as imperfeições dele, ao travar contato com um grupo opositor que luta contra o "Benfeitor", regente supremo da nação. O livro só adentrou legalmente a pátria-mãe do autor em 1988, com as políticas de abertura do regime soviético, devido à censura imperante no país.

Resenha:

O mundo, depois de uma guerra de 200 anos, está na mais perfeita ordem. As pessoas são supostamente felizes, apesar de viverem em uma ditadura. O Benfeitor, ditador dessa sociedade, determina a hora de dormir, de comer, de trabalhar e até de fazer sexo. Tudo é previamente organizado. Você não precisa fazer nada, apenas viver e ser feliz.

Nessa sociedade onde a ordem e o progresso andam juntas, as paredes são de vidro, literalmente, para que todos vejam os que os demais estão fazendo. Afinal, se todos são cidadãos de bem, não há nada o que esconder. Pensar e agir contra o sistema é crime punido com morte; ter esperança também. A imaginação, o amor, a cumplicidade... Todos são pecados mortais. Porém, alguns humanos ainda carregavam uma chama que, mesmo tímida, não fora apagada: eles ousavam imaginar.


O indivíduo, obviamente, era proibido de imaginar, ainda mais se fosse imaginar um mundo sem o Estado Único. D-503, nosso protagonista, é um dos que não pensam em nada além do que o governo determina. Ele é racional, metódico e segue exatamente o que é mandado. Ao menos até conhecer I-330. Ela é uma mulher que deseja mais do que um sistema opressor, mais do que o Benfeitor pode prover. Ela quer liberdade e contamina D-503 com esse sentimento. Porém, a mente de nosso protagonista entre em confusão. Ele deveria mesmo lutar contra as bênçãos do Estado Único?
“– E que última revolução é essa que você quer? Não há última, as revoluções são infinitas. Último é para as crianças: o infinito as assusta, e é imprescindível que as crianças durmam tranquilamente à noite” (p. 273).
Partindo dessa premissa, Yevgeny Zamyatin cria um enredo envolvente, profundo e que ainda é atual, mesmo mais de 90 anos após a sua escrita. Sua obra foi tão perturbadora e intrigante que foi censurada e inspirou escritores como George Orwell e Aldous Huxley. A trama forte, os diálogos subversivos e os personagens profundos compõem um enredo que é impossível de ser ignorado. Ele se faz presente por força; grita aos nossos ouvidos.

A construção do Estado Único, em primeiro lugar, é brilhante. Apesar de ainda estarmos um pouco longe de um regime tão abusivo, a metáfora é totalmente pertinente. Vemos, ainda hoje, questões que são tratadas no livro. Afinal, ainda há, infelizmente aos montes, pessoas que defendem um regime totalitário, que reprima a liberdade, mas que traga “a felicidade para os bons”. Ademais, a repressão que o Estado Único estabelece é também possível de comparação com alguns pontos da nossa realidade, como quando manifestações são reprimidas com bombas, força e medo.


Além do livro ser atual, outro ponto que se destaca é a qualidade da construção psicológica dos personagens. Por ser desenvolvido através de uma espécie de diário, escrito em primeira pessoa, entramos na cabeça do protagonista e entendemos seus anseios, o medo da mudança, o temor pelo que pode dar errado. A lavagem cerebral feita pelo Estado Único é tão forte que modifica o ser até nos mínimos detalhes. É essa construção e desconstrução pessoal que acompanhamos na obra.
“O homem é como um romance: até a última página não se sabe como vai terminar. Do contrário, não valeria a pena ler...” (p. 220).
Ademais, o livro também ganha pontos pela boa escrita e pelo envolvimento que estabelece. Mesmo sendo um trabalho idealizado há muitos anos, a linguagem é direta, de fácil acesso e envolvente. Além disso, o autor tem uma forma de construir o enredo que demonstra um domínio gigantesco sobre as estruturas narrativas. Juntos, todos esses elementos formam um clássico que marcará a vida do leitor.

Para completar, a Editora Aleph preparou uma edição muito especial para os leitores brasileiros. A obra conta com uma capa dura belíssima e uma diagramação maravilhosa; o corte é vermelho e preto, e as páginas que dividem os “capítulos” são também escuras. O livro ainda conta com uma resenha escrita pelo George Orwell e também com uma carta, escrita pelo próprio autor, para Stálin. Ou seja, tudo contribui para uma leitura profunda e fluida.

Em suma, Nós é uma leitura mais do que recomendada, visto que, além de um clássico, é uma obra que ainda tem muito a nos ensinar sobre a nossa realidade. Seja você fã ou não de distopias, dê uma chance para o livro. Zamiátin irá surpreender-te.

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Comentários
10 Comentários

10 comentários:

  1. Visivelmente, é um livro muito bonito,mas ao ler a resenha a gente fica meio se perguntando como seria viver em uma sociedade assim. Sem segredos, beleza..mas com sonhos e medos de arriscar, de tentar algo diferente.
    Pessoas robóticas, sendo guiadas por linhas tênues de um comando totalmente sem noção.
    Puxa..
    Beijo

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  2. Olá!
    Um livro bem diferente, romance mas fora do meu foco de leitura, mas achei interessante o enredo é por isso irei dar uma chance à escrita, dica anotada Marcos!
    Bjs

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  3. Parece um bom livro do gênero e gosto de coisas assim nesse estilo. Mas esse não sei se pegaria fácil. Seria um desses livros que vou na sorte, pego e leio sem esperar muita coisa e sem tanta vontade assim. Gostei do jeito dele, dessa construção da sociedade e por parecer ter umas questões psicológicas dos personagens bem feitas. Mas não me chamou tanta atenção assim.

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  4. Oi Marcos.
    Essa é a primeira vez que vejo falar do livro, mas ja adorei a premissa a coisa toda do regime totalitário ja me conquistou, e imaginar e vivenciar uma realidade assim deve ser incrível, enfim esse vai para minha lista com certeza.
    Bjs.

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  5. Marcos!
    Fiquei daqui imaginando tudo de vidro e todo mundo observando o que se faz... me sentiria violada, mesmo sem ter nada a esconder. Imagina?
    De qualquer forma, deve ser uma boa leitura para aprendermos mais sobre o totalitarismo.
    Desejo uma semana tranquila!
    “Uma pergunta prudente é metade da sabedoria.” (Francis Bacon)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE MAIO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  6. Olááá, não conhecia esse livro, mas já gostei de cara!
    muito maneira a escolha das cores, a forma como eles fizeram a decoração, chama muito a atenção. Além disso, adoro distopias e ainda mais quando elas fazem alguma referência a um acontecimento real, deve ser interessante ler e imaginar o ocorrido como se fosse na época em que o autor escreveu.

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  7. Ola,
    Um livro bem diferente é raro de ser lido. A trama dele é bem interessante e envolvente, me pareceu uma ditadura bem elevada a ponto de não poder ser livres, acho que q única forma de pensar também é proibido e, bem rigoroso esse gorveno. Fiquei pensando como as pessoas sobrevivem em uma casa feita de vidro sabendo que outros podem ver e, meio estranho isso e como invasão de privacidade.
    Não sei se leria mais seria uma ótima escolha para sair do conforto!

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  8. Olá.
    A premissa do livro é interessante, porém diferente de tudo que já li. Fiquei, no mínimo, curiosa. Parece ser uma leitura bem inteligente.
    A resenha está muito bem escrita, como sempre.
    Abraços.

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  9. Oi, Marcos!!
    Que livro mais incrível!! Gostei muito da premissa do livro e que edição mais linda essa sem dúvida é uma indicação incrível!!
    Bjoss

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  10. Olá,
    Essa é a segunda resenha que leio sobre a obra e só reforçou minha vontade de fazer a leitura.
    A premissa é interessante e fico tentando imaginar como seria viver em um mundo dessa forma, com medo de fazer algo novo. Não me daria nada bem vivendo assim.
    A edição parece ser um luxo e eu adorei a capa!

    LEITURA DESCONTROLADA

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