21/02/2017

Resenha: As Imaginações Pecaminosas

Título: As Imaginações Pecaminosas
Autor: Autran Dourado
Editora: Rocco
ISBN: 8532518354
Ano: 2005
Páginas: 160
Compre: Aqui

Sinopse:

Publicado pela primeira vez em 1981, As imaginações pecaminosas é um dos livros mais premiados da extensa carreira de Autran Dourado. Embora essa fantástica obra, composta por nove contos e um artigo de não-ficção, aparentemente não tenha a mesma relevância dos principais romances do mesmo autor, foi com ela que Autran Dourado conquistou o Jabuti de 1982 e o importante prêmio Goethe de literatura, oferecido pelo governo alemão.
Se engana, no entanto, quem acha que os pequenos textos aqui reunidos têm uma importância secundária, sem o vigor narrativo de Tempo de amar e a detalhada, lenta e paciente construção de personagem de A barca dos homens, colocando-os em pé de igualdade com os demais contos do autor. O que se observa nesse livro, na verdade, é o momento em que o ficcionista atinge o seu ápice, plenamente seguro de suas características e seu estilo, consciente da forma, das imagens e do ritmo que utiliza. O resultado não poderia ser outro: contos densos, precisos e envolventes, nos quais nada falta e nada sobra, construídos na medida certa, sem uma única palavra fora do lugar.

Resenha:

O povo de Duas Pontes possui uma imaginação incrível, porém, muitas vezes, as fofocas sussurradas ao pé do ouvido são verdadeiras. Essas imaginações pecaminosas são relatadas no livro de Autran Dourado, narradas pelo próprio povo, que assistiu a todos os acontecimentos e sabe dos seus pormenores. Com eles, vamos embarcar em histórias, algumas trágicas, outras curiosas, mas todas incríveis.

Conhecemos personagens diversos, como Vitor Macedônio, um homem rico, realizado, respeitado, mas que não soube esperar a sua hora certa de morrer. A paciência é uma virtude e essa não constava na lista de Vitor. O medo da morte o deixava receoso, afoito, querendo uma solução ágil, que não lhe era possível. O final dessa história? Ah, só o povo de Duas Pontes poderá te contar.


Porém, diferente de alguns livros de contos, aqui temos a continuidade; no texto seguinte, por exemplo, o protagonista é Valdemar Filgueiras, subordinado do senhor Vitor Macedônio. Neste conto conhecemos melhor esse personagem, indo além daquela face estereotipada. Conhecemos seus desejos, necessidades, anseios e os seus pecados; estes, aliás, que sempre trazem suas consequências.
“O mal de Vítor Macedônio foi não saber esperar a própria morte. Nisso não diferia do comum dos mortais, em que a regra geral é a impaciência. Poucos têm o ânimo necessário para aguardá-la, quando então tudo acontece naturalmente, como a queda de uma folha, a vinda do outono ou do inverno” (p. 14).
Essa continuidade inserida por Autran Dourado faz com que a obra tenha uma espécie de ar romanesco, apesar de ser escrito em contos. O povo vai emendando uma história na outra, fazendo com os contos sejam unidos, se não pela mesma história, por lugares comuns e personagens. Para quem tem maior dificuldade na leitura de contos, isso ajudará bastante, pois deixa a obra mais envolvente.

O autor também merece destaque por conseguir construir muito bem o lado psicológico em seus contos, explorando bem cada potencialidade dos protagonistas. Quem escreve contos ou os lê com frequência sabe o quanto isso é difícil, afinal, temos um número pequeno de páginas para uma carga tão grande, contudo, isso não intimida o autor. Ao contrário, Dourado mostra todo o seu talento ao talhar personagens reais, que realmente poderíamos conhecer.


É necessário também destacar a escrita da obra: densa, bem trabalhada, mas envolvente e até um pouco poética. Autran sabe como escrever de verdade; possui técnica e talento, gingado e muito conteúdo. As palavras ficam exatamente no lugar onde deveriam estar; a sua escrita é precisa, forte, parecida com a de grandes mestres que já passaram pela literatura brasileira. Isso, com certeza, explica os prêmios Jabuti e Goethe que faturou. Para quem tem um bom olhar, a sua prosa é apaixonante.
“Bem que diziam os antigos: só depois de morto é que se pode dizer se alguém foi feliz” (p. 30).
Quanto à parte física, restam apenas elogios também. A Rocco preparou uma edição bonita e confortável. A capa é bem artística e representa bem o clima da cidade Duas Pontes. A diagramação, por sua vez, apesar de simples, é bem confortável, gerando uma boa leitura. A revisão também está perfeita, não havendo do que reclamar.

Em suma, As Imaginações Pecaminosas é um livro bem escrito, forte, denso e que serve como uma excelente apresentação do autor. Sem dúvidas, uma obra que irá agradar quem gosta de boa literatura.

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Comentários
16 Comentários

16 comentários:

  1. Oi Marcos!
    Na minha listinha de leitura esse ano eu coloquei alguns desafios e um deles é ler um autor vencedor do Jabuti.
    Que bom que você fez resenha desse livro pois é ele mesmo que vou ler kkk
    Depois que ler digo o que achei:)
    Abraço

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  2. Me deu a sensação dos velhos e mágicos "causos" que o povo de Minas Gerais gostam de contar nas rodinhas de amigos, nas tardinhas de verão...
    Nostalgia boa...saudades do avô!
    Lembra povo de cidade pequena, que emenda uma pessoa na outra e assim, vão tecendo suas histórias repletas de imaginação e magia!
    Preciso muito ler este livro!
    Beijo

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  3. Oi Marcos!

    Li poucos livros que tenham essa pegada poética, e gostei muito deles.
    Fiquei bem curiosa com a sua resenha, mesmo o autor tendo uma escrita mais densa e detalhada, acredito que eu gostaria muito de conhecer essa obra.

    Ótima resenha!
    bjo bjo^^

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  4. Oii!
    Não conhecia a obra, por gostar de poemas não qro perder essa oportunidade de conhecer, gostei bastante.
    Bjs

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  5. QUE LINDO!!

    Gritou aqui na lista de desejados! Adorei a resenha e a dica!

    Bjks

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  6. Hey,

    A capa é maravilhosa e a diagramação também, mas infelizmente não é um livro que eu leria.

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  7. Oi, Marcos!!
    Não conhecia essa obra!! A capa é maravilhosa!! Fiquei com imensa vontade de ler esse livro mesmo não gostando tanto desse tipo de leitura!!
    Beijoss

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  8. Olá, Marcos.
    Se eu participar de algum desafio que tenha que ler um livro publicado no ano em que eu nasci já sei o que ler hehe. Não sou muito fã de livros de contos, mas por essa continuidade, acredito que vou gostar.

    Prefácio

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  9. Olá, apesar de conter uma trama complexa é evidente a que técnica de escrita do autor é infalível despertando interesse dos leitores para uma história que detalha os males dos pecados muitas vezes despercebidos. Beijos.

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  10. Não conhecia esse livro e ele parece ser bem interessante. Achei muito legal que os contos tenham esse jeito de continuação. Fica bem diferente. E já gosto de livros de contos, então seria uma mudança divertida conhecer um livro assim.
    E ele parece apresentar uma trama simples, mas ao mesmo tempo muito rica. Bem feita pelo jeito. Gosto muito quando exploram bem o lado psicológico dos personagens, que dê essa sensação de conhecer a pessoa a fundo. Fica bem interessante na hora de ler se os personagens parecerem reais, como se a gente pudesse conhecer mesmo. Acho que dá uma magia interessante pra história.
    Muito boa essa dica =)

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  11. Marcos!
    Gosto muito quando um autor se arrisca a diversificar sua escrita e não é a toa que ganhou prêmios.
    O que achei mais interessantes é em ver que os contos se conectam uns com os outros, trazendo uma continuidade e também que aborda os aspectos psicológicos.
    “Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.” (Georges Bernanos)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de FEVEREIRO, livros + KIT DE MATERIAL ESCOLAR e 3 ganhadores, participem!

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  12. Realmente parece ser uma excelente obra. Gostei muito dos contos serem, de certa forma, interligados. O primeiro conto me deixou muito curiosa, o personagem que não tem paciência e tem medo da morte. Gostei muito da capa. Ótima resenha e dica.
    Abraço!
    A Arte de Escrever

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  13. Oi mano, que bom que gostou da obra mas eu não posso dizer que iria ler esse livro já que não gosto muito do estilo da obra. Mas tenho que admitir que a capa foi bem trabalhada e espero que o autor tenha muito sucesso.

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  14. Olá...
    Ainda não conhecia o livro, mas essa edição da Rocco ficou realmente linda!!! Adorei a resenha e a dica de leitura... Com certeza quero ler em breve...
    Abraços.

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  15. Gosto muito de contos, e essa narrando a vida de um personagem, por outros personagens também bem característicos, me deixou fascinada!
    Já quero!
    Imagino as peripécias e fofocas que são retratadas, rs

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